Tite está pronto para voltar a trabalhar em um clube e já planeja seu futuro depois de um ano longe dos campos. Longe dos campos, mas não do trabalho. Desde que deixou o Corinthians, o técnico parou para estudar a fundo o futebol. Consumiu doze livros em três idiomas diferentes, fez várias viagens e alimentou sua ‘fissura’ por tática.
Depois de ser cotado para assumir a seleção brasileira após a Copa do Mundo e de ter negociado com a japonesa, Tite estuda propostas e já até cogita voltar ao Corinthians. Mas, um ano depois, ele acredita que será um treinador mais preparado.
Paixão por tática
Tite é um apaixonado confesso pela tática no futebol e tem usado seu ano sabático para aperfeiçoar novos esquemas de jogo. No período em que ficou distante dos clubes, leu cinco livros sobre o assunto e esse foi um dos pontos que mais o interessou na Copa do Mundo.
Tite se encantou pelo 4-1-4-1, usado por seleções como França e Alemanha com um volante cobrindo a defesa e meias de qualidade. Ele ainda não tem o domínio da formação, mas quer decifrá-la para poder ter mais alternativas e variações em situações futuras.
O 4-1-4-1, por sinal, é um dos principais assuntos que ele pretende conversar com o técnico italiano Carlo Ancelotti, em sua visita ao Real Madrid no fim do mês de outubro. O italiano é adepto desse tipo de posicionamento na equipe merengue e usou em jogos importantes como na semifinal da Liga dos Campeões contra o Bayern de Munique.
O interesse é tão grande que Tite já declarou ser esse o seu ponto forte. ‘Em termos táticos eu sou muito bom. Muito. Não é pouco. Fui buscar esse conhecimento. Me traz qualquer que seja a relação de estrutura tática e movimentação, de posição, função, que eu trabalho’, disse, à TV Gazeta.
Viagens para conversar com Bianchi, Ancelotti e conhecer o Arsenal
Um dos principais pilares de Tite em seus estudos vem sendo o intercâmbio com outros técnicos já consagrados, ajudado pelo bom relacionamento que seu empresário Gilmar Veloz tem fora do país. ‘O Tite pensa futebol e acha que não adianta só focar no clube em que está, é preciso estudar. Ele tem interesse por conhecer mais sobre outros técnicos, saber como ganhou tal título, como virou um jogo’, conta Gilmar.
Tite e seu auxiliar Cléber Xavier foram a Buenos Aires acompanhar a final da Libertadores e aproveitaram para visitar Carlo Bianchi. Eles almoçaram com o argentino e tiveram um longo papo para conhecer a história do argentino, um dos maiores técnicos da histórica do Boca Juniors e com quatro Libertadores na carreira. Outros assuntos em pauta foram a metodologia de trabalho e tipos de treinos realizados na Argentina e no Brasil.
Outra viagem que Tite fez para aprimorar seus conhecimentos foi ao Arsenal, da Inglaterra, para assistir a três jogos da Liga dos Campeões e conhecer o departamento de tecnologia do clube inglês. O gaúcho é um fã do uso de inovações no futebol e usa muitos recursos para aprimorar o posicionamento dos jogadores por meio de mapas e análise de treinos e jogos. Ele chegou a ampliar o departamento quando estava no Corinthians.
No Arsenal, Tite e sua equipe ficaram impressionados com o tamanho do investimento e da estrutura. ‘Com os mapas a gente consegue ver com perfeição a movimentação, as linhas de posicionamento. A gente já fazia isso, mas lá fora o que impressiona é o tamanho da coisa, o uso de softwares avançados. No Corinthians, pedíamos que alguns treinos fossem gravados. Lá isso já é uma rotina. Alguns centros de treinamentos e estádios já têm câmeras instaladas apenas para essa finalidade’, conta Cléber.
Antes de voltar a trabalhar, Tite ainda planeja uma visita ao técnico do Real Madrid Carlo Ancelotti, com quem Gilmar Veloz também tem proximidade. Além de querer aprender mais sobre o esquema 4-1-4-1, Tite já preparou assuntos a serem abordados como, por exemplo, posicionamento e características de atletas, além do sistema de rodízio para poupar atletas comumente usados no futebol europeu.
‘Normalmente quando vamos fazer uma visita, fazemos um briefing de acordo com a história do profissional e com o que gostaríamos de saber. Como o Ancelotti vai trabalhar com jogadores como Bale, Benzema, Cristiano Ronaldo e o James Rodríguez em relação ao que tinha no ano passado? O Di Maria era mais dinâmico, o James tem uma movimentação menor. Qual a estrutura que ele trabalha com a saída do Xabi Alonso e a entrada do Tony Kroos? Como é a iniciação de jogo com a abertura dos dois zagueiros e a entrada do volante para começar’, conta Cléber.
Durante período em que esteve fora dos campos, Tite estudou a fundo o futebol | Vinícius Costa/ Agência Preview |
Livros em português, espanhol e até italiano
No último ano, Tite não se dedicou à leitura de doze livros. Das publicações devoradas pelo treinador, cinco foram sobre tática, a maior parte delas em espanhol e até em italiano. Os títulos ‘Enseñanzas tácticas para ele 1-3-4-3 / 1-4-4-2 / 1-4-2-3-1 – Miguel Aguado’, ‘Mi receta del 4-4-2’, ‘Periodização Tática – O futebol-arte alicerçado em critérios’ e o italiano ‘Gioco di Testa’ o ajudaram Tite a ter novas referências.
‘Muitos são de leituras e também têm fotos e desenhos de treinamentos. Já vimos um tipo de treino que fazíamos há seis anos estar em um livro hoje. É interessante para vermos o que dá para adaptar, usar em uma forma de treino específico. O importante é anotar, discutir e ampliar o horizonte para quando voltar a trabalhar’, ressalta Cléber.
Perfis de grandes personalidades do esporte como Onze Anéis, de Phil Jackson, e Los Bad Boys del Fútbol também estão na biblioteca do treinador. Outros assuntos que interessam o treinador são livros motivacionais e ensinamentos de técnicos consagrados nos ‘Los 11 poderes del líder’ , de Jorge Valdano, ‘Ele efecto Simeone – La motivación como estratégia’, de Diego Simeone, e ‘Palavra de Entrenador’, escrito por Orfeo Suárez’.
Para fugir um pouco do futebol, Tite teve como passatempo em dois livros brasileiros. Diálogos Impossíveis, de Luiz Fernando Veríssimo, e ‘Caminhos e Escolhas -o equilíbrio para uma vida mais feliz’, do empresário Abílio Diniz .
Aluno aplicado na Copa do Mundo
A Copa do Mundo foi um dos maiores laboratórios para o ex-corintiano. Ele mergulhou no estudo das partidas do Mundial e negou convites de várias emissoras de rádio e televisão para comentar jogos. Tudo para não perder o foco e atrapalhar sua metodologia de estudo.
O treinador assistiu a todos os 64 jogos e só não viu todos ao vivo porque alguns aconteciam no mesmo horário. Ainda chegou a ver alguns no estádio em Porto Alegre. Durante o Mundial, ele mostrou que é um aluno aplicado. Não se desgrudou de um caderninho para anotar todas as observações detalhadamente e se encantou pelo esquema de jogo 4-1-4-1, que seleções como a França e a campeã Alemanha usaram em muitos momentos do Mundial.
Fonte: UOL