Foi o então vice de futebol, Roberto de Andrade, quem ponderou. Não havia cabimento oferecer dois anos de contrato a Mano Menezes. Não seria justo com o Corinthians. O mandato de Mario Gobbi terminará em fevereiro de 2015. Andrade insistiu que, se o novo presidente desejasse outro treinador, o clube teria de pagar dez meses de multa pela dispensa do técnico. Só então Gobbi se convenceu e o acordo foi fechado até dezembro de 2014.
Muita coisa mudou desde novembro de 2013. O prestígio de Mano Menezes rapidamente caiu. Mais do que o fracasso no Paulista, o decepcionante futebol mostrado pelo time tem respingado no próprio Mario Gobbi. O presidente tem sido cobrado cada vez mais insistentemente por conselheiros no Parque São Jorge. Cada vez que ele se aventura a circular pelo clube nos finais de semanas é cobrado por sócios. As reclamações convergem para o fraco futebol do Corinthians.
Pessoas ligadas a Roberto de Andrade garantem o arrependimento do ex-vice de ter contratado Mano. E mais. A falta de paciência com Tite. Há um sentimento crescente de saudade de recolocar o time nas mãos do ex-treinador.
Muita gente que trabalhou com o técnico campeão da Libertadores e Mundial em 2013 tem uma certeza. Sua frustração de ver Felipão na Seleção e a ansiedade de assumir o Brasil depois da Copa de 2014 travaram o técnico. Virou sua obsessão. Com a escolha de Dunga para o cargo que acreditava ser seu por direito, ‘Tite voltará a ser Tite’, me garante um importante conselheiro da situação e favorável ao retorno dele em 2015.
Tite percebeu o tempo que perdeu com esse ano sabático. Estudou o quanto pôde futebol. Viajou para a Europa. Comentou Champions League. Se atualizou, se preparou, se irritou com o 7 a 1 da Alemanha. E esperou ser chamado para o lugar que Felipão ocupou. Ninguém entre os treinadores modernos teria currículo melhor do que ele. Sua trilogia Brasileiro de 2011, da Libertadores e do Mundial de 2012 deveria ser respeitada. Não foi. Contrariado, viu Dunga retornar.
As sondagens de Japão e de Paraguai não darem em nada. Representantes de Grêmio, Santos, Internacional, Flamengo e até Palmeiras bateram à toa na sua porta. Deprimido, Tite entendia que sua ligação umbilical que já teve com Andrés Sanchez o impedia de frequentar o mesmo ambiente que Marin e Marco Polo del Nero.
2ae10 O destino é irônico com o Corinthians. Repete 2013. Só inverte a posição dos personagens principais. Mano Menezes já sabe que não continuará em 2015. E Tite não voltará só se não quiser…
Quando Dunga chegou sorridente à sede da CBF ao lado de Gilmar Rinaldi, ele entendeu que 2014 já havia acabado em pleno agosto. Não iria aceitar trabalhar em um clube brasileiro para tentar salvá-lo do rebaixamento. Por isso barrou logo de cara o interesse de Paulo Nobre em levá-lo ao Palestra Itália. Em uma inversão irônica, Felipão assumiu o Grêmio no cargo que Tite não quis.
O técnico entendeu que não adiantaria nada ficar depressivo, inconformado. Rubens Minelli já havia mostrado que sempre haverá injustiçados que não atingirão a Seleção Brasileira. Tite resolveu problemas familiares, encaminhou filho e filha. E decidiu que voltará ao trabalho no início de 2014. Escolherá o melhor lugar para começar do ‘zero’. Montando o elenco com critério. Se preparar para ficar anos onde escolher. No Corinthians ficou três anos e meio.
Pois é lá mesmo, no Parque São Jorge, que seu nome renasce com muita força. Roberto de Andrade não quer continuar com Mano Menezes. A relação entre eles não foi boa. Até mesmo Andrés Sanchez, maior defensor da volta do treinador, perdeu o entusiasmo. Mano voltou muito diferente da Brasileira, do Flamengo. Os fracassos o deixaram mais frio, mais distante das pessoas, dos jogadores.
Depois de quase dez meses de trabalho, ele insiste que foi contratado para reformular a equipe em 2014. Só que Mano finge não perceber. O Corinthians precisa desesperadamente que ele tenha ao menos um mínimo de sucesso no seu trabalho este ano. Endividado, o clube tem de garantir a classificação para a Libertadores de 2015. Está muito pesado enfrentar os juros do Itaquerão.
Mano é vaidoso, mas inteligente. Sabe da angústia que toma conta de Mario Gobbi. O presidente está isolado por brigas com seu mentor, Andrés Sanchez. Algumas delas pelo fraco desempenho do time nas mãos do atual técnico. O maior representante da oposição, o milionário Paulo Garcia, se tornou o grande contribuinte da campanha de Andrés a deputado federal. Mesmo Roque Citadini, e suas folclóricas declarações, se aproximou de Andrés. Roberto de Andrade ainda acredita ser o candidato de consenso da situação para substituir Gobbi. Paulo Garcia ainda pensa se vai concorrer ou não.
Mas há um consenso entre os candidatos corintianos. Ambos não querem seguir com Mano Menezes. E cobiçam o retorno de Tite ao Parque São Jorge. O caminho está aberto. O treinador continua ligado profundamente ao ambiente do clube. Mantem um apartamento de altíssimo luxo na Zona Leste, no Tatuapé, bem próximo ao Corinthians.
O técnico ainda não se conformou. O fato de a direção ter conversado com Mano quando ainda estava trabalhando no Parque São Jorge ainda dói. Mas ele entende que é assim que o futebol brasileiro age. Também viveu o outro lado. Firmou compromisso com o Atlético Mineiro quando Procópio ainda trabalhava por lá. Gobbi não irá procurá-lo para reconduzi-lo ao lugar de Mano. Até porque tem apenas pouco mais de quatro meses de mandato.
O destino é irônico com o Corinthians. Repete 2013. Só inverte a posição dos personagens principais. Mano Menezes já sabe que não continuará em 2015. E Tite não voltará só se não quiser…
Mas Roberto de Andrade e Paulo Garcia o cobiçam. Mano Menezes, orientado por seu eficiente empresário Carlos Leite, também já sabe. Não vai criar caso de forma desnecessária agora. Mas já começa a pensar no seu futuro em 2015 longe do Parque São Jorge. Antes, quer cumprir sua obrigação, sua meta de colocar o time na Libertadores.
O caminho ideal, a conquista do Brasileiro de 2014, parece impossível. Vai colocar todas as suas fichas na Copa do Brasil e nas posições entre terceiro e quarto do Campeonato Nacional. Se conseguir, terá cumprido sua meta e poderá sair valorizado. Atingido o target, já que gosta de colocar sua carreira como a de um executivo: reformulou o time envelhecido campeão da Libertadores e do Mundial. E ainda o teria colocado na Libertadores de 2015.
Este é o clima atual no Corinthians. Bem parecido com os meses finais de 2013. Quando Tite fingia não saber que não continuaria. No dia 19 de setembro do ano passado, Mano demitia o Flamengo. E sabia que o caminho estava aberto para o seu retorno ao Parque São Jorge. Agora tem plena consciência que não ficará no próximo ano. Enquanto Tite só não retornará ao Corinthians se não quiser…
Fonte: R7 – Cosme Rimoli