O TJD-SP (Tribunal de Justiça Desportiva de São Paulo) decidiu que os gritos de “bicha” proferidos pela torcida do Corinthians para Rogério Ceni, goleiro do São Paulo, não são homofóbicos. Mauro Marcelo de Lima e Silva, presidente do órgão, decidiu arquivar as denúncias da Coordenação de Políticas LGBT da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo e do advogado Filipe Souza Rino. Ambos queriam a punição corintiana com base no CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva) e no Estatuto do Torcedor.
No clássico entre Corinthians e São Paulo, realizado no último dia 9 de março, por diversas vezes quando Rogério tocava na bola ou se preparava para cobrar um tiro de meta os torcedores adversários gritavam em coro “ôôôôô bicha!”. Para Lima e Silva, o que houve ali tem “distância muito grande com uma atitude realmente homofóbica”. Em suas palavras, foi uma “simples euforia coletiva motivada pela tensão do jogo”.
“O que ocorreu com Rogério Ceni no mencionado jogo foi homofobia? Claro que não. Faltou ali o ‘animus’ da vontade positiva e dolosa de criticar a opção sexual do atleta, existindo uma distância muito grande entre o que aconteceu com ele e uma atitude realmente homofóbica. Não houve ofensa à sua sexualidade ou orientação sexual”, publicou o presidente do TJD-SP em sua decisão.
“Foi mais um deboche público, uma zombaria, uma piada em coro, uma grande piada politicamente incorreta motivada pelo que a psicologia social e de massa chama de ‘efeito manada’, em que os torcedores – dentro de seu grupo e levados pela emoção do momento – esquecem qualquer tipo de ética, valor moral e bons costumes”, prosseguiu o jurista.
“Apesar do pensamento coletivo machista, proferido em uníssono no estádio por esses torcedores hipnotizados pela união do grupo, não havia na conduta uma decisão consciente, mas uma simples euforia coletiva motivada pela tensão do jogo e o calor das arquibancadas, que são as molas propulsoras desse irracional comportamento verbal em que os indivíduos passivos apenas seguem a maioria”, finalizou Lima e Silva.
Para justificar o arquivamento do processo, o presidente do TJD-SP comparou as ofensas a Ceni com os insultos raciais sofridos por Arouca, volante do Santos, que foi chamado de “macaco” depois de partida contra o Mogi Mirim.
“Temos ali uma clara ofensa racial ao atleta que é negro, o que levou o TJD à punição preventiva, fato esse diferente do que ocorreu com o atleta Rogério Ceni do São Paulo”, publicou Lima e Silva.
Fonte: IG