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Ex-lateral do Timão vira goleador e conduz Hertha ao título na Segundona

Danilo Vieira Andrade

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Após mudança de posição, Ronny soma 12 assistências e 18 gols na 2.Bundesliga (Foto: AFP)
Berlim está em festa. Liderado pelo brasileiro Ronny, o Hertha BSC, time mais tradicional da capital da Alemanha, sagrou-se campeão da Segunda Divisão – com duas rodadas de antecedência – e está de volta à elite do futebol nacional. As boas atuações com a camisa da “Alte Dame” renderam ao brazuca, que encarou com naturalidade o desafio de mudar de posição nesta temporada, um novo contrato (mais quatro anos de vínculo) e um apelido um tanto quanto curioso por parte dos torcedores. Lateral-esquerdo de berço, o camisa 12 é hoje o responsável por pensar o jogo berlinense e faz sucesso como meia-atacante em terras germânicas, encantando a torcida azul e branca.

Principal destaque do clube na competição, Ronny Araújo condicionou o êxito ao fervoroso apoio dos torcedores do Hertha Berlin durante a temporada. Para ele, a conquista premia a irretocável campanha da equipe na 2.Bundesliga, a Segunda Divisão do Campeonato Alemão. Ao todo, foram 22 vitórias, 10 empates e apenas duas derrotas, recolocando Berlim no centro do futebol local, após um ano distante da elite.

– Inicialmente, procuramos fazer nossa parte. Depois, as coisas foram acontecendo com naturalidade. Dedico esse título aos meus familiares e, principalmente, aos torcedores do Hertha, que sempre estiveram ao nosso lado em todos os momentos. Agora, é hora de fazer a festa. O Hertha é um time grande e de tradição, que não podia ficar nessa situação – disse o jogador, em entrevista ao LANCE!Net.

Aos 26 anos, o brazuca arrisca a dizer que vive a melhor fase de sua carreira. Lateral-esquerdo de origem e antes mais acostumado a brecar os avanços dos adversários, o ex-jogador do Corinthians agora é quem preocupa a marcação rival. Nessa temporada, sob comando do técnico Jos Luhukay, Ronny ganhou algumas jardas de campo, passou a articular as jogadas ofensivas do Hertha Berlin e impressionou: foi o protagonista de uma temporada inesquecível.

Ele levou o time ao topo da tabela ao marcar 18 gols (além de 12 assistências) em 33 jogos, o que lhe garantiu a vice-artilharia da competição.

– A mudança de posicionamento foi tranquila. Atualmente, eu atuo quase como um segundo atacante, mais livre. Jogo de meia, mas tenho total liberdade para chegar na frente. Quando eu desembarquei no Hertha, em 2010, atuava mais como ponta-esquerda, mas a mudança definitiva de posição aconteceu com a chegada do Jos Luhukay nesta temporada. Agora, estou jogando numa posição que eu gosto bastante de atuar, que é mais próxima do gol. AA temporada foi muito positiva. Terminei o campeonato com um gol a menos do que o artilheiro da competição (Kumbela, do Eintracht Braunschweig) – afirmou.


Nascido em Fortaleza, o jogador começou sua trajetória no Corinthians, clube pelo qual foi Campeonato Brasileiro em 2005. As lembranças daquele período de grande aprendizado permanecem vivas até hoje em sua memória. Num grupo recheado de craques, montado graças ao dinheiro do fundo de investimentos MSI, Ronny teve o privilégio de jogar ao lado de Tevez, Mascherano, Roger, Carlos Alberto e Nilmar, ganhou poucas oportunidades (foi reserva de Gustavo Nery) e transferiu-se para o Sporting-POR. Em seguida, foi emprestado ao União de Leiria-POR, onde indiscutivelmente virou titular.

A mudança para o Hertha Berlin em junho de 2010, não apenas proporcionou a Ronny melhores perspectivas esportivas e financeiras, como também concretizou a realização de um sonho da família Araújo: pela primeira vez na carreira, ele jogaria ao lado do irmão Raffael, que pouco tempo depois rumou para o Dínamo de Kiev e posteriormente para Schalke, também da Alemanha, clube que defende até hoje.

Filhos de Caetano, ex-jogador de Ceará e Fortaleza, os dois terão agora a chance de “reeditar” os acirrados confrontos das peladas de rua do bairro de Fátima, em Fortaleza. Com o retorno do clube da capital à elite, os irmãos, que fizeram uma parceria de sucesso no Hertha entre 2010 e 2012, vão ser adversários na temporada 2013/2014. E Ronny espera levar a melhor.

– Quando éramos pequenos, sempre queríamos jogar um contra o outro. Era até engraçado. Depois, com a minha transferência para o Hertha, eu e meu irmão realizamos um sonho da família. Agora, estamos novamente em lados opostos. É o destino. Espero sair vencedor.

Há quase três anos na Alemanha, o camisa 12 teve a oportunidade de mostrar o seu talento e provar do que é capaz. No entanto, sua carreira não é marcada apenas por momentos positivos. Ronny convive com a instabilidade do Hertha Berlin no renovado cenário do futebol alemão. Apesar do bom rendimento dos rivais na Liga dos Campeões, a Velha Senhora, como é chamada a equipe azul e branca, foi rebaixada em duas ocasiões nas últimas três temporadas. Para evitar o constante “sobe e desce”, o meia-armador aposta na tradição da agremiação e no apoio incondicional da torcida para fazer bonito na Bundesliga.

– Todos os jogos têm uma quantidade boa de público. O mínimo é de 30 mil pessoas em nosso estádio. Quando tem dérbi, esse número aumenta. A torcida comparece e nos apoia bastante. É um dos fatores de sucesso da nossa campanha. Sou muito grato por tudo. Fico feliz de ter o reconhecimento do torcedor.


Completamente adaptado à nova cultura e ao Hertha, o jogador cearense é hoje um dos homens de confiança do treinador Jos Luhukay. Na mesma velocidade com que se livra dos marcadores e arranca em direção ao gol adversário, Ronny enfrenta o frio alemão, rompe a barreira do idioma (“bem diferente do português”) e conta com a ajuda de grandes companheiros, a mulher Isabel e os filhos Isabelle e Ronny Jr., para superar as adversidades e sonhar alto: mesmo com um discurso cauteloso, aguarda uma oportunidade na Seleção Brasileira. Inclusive, já na Copa do Mundo de 2014, por que não?

E a esperança de ser convocado por Felipão não é por acaso. A sequência de boas atuações do jogador na Segunda Divisão do Campeonato Alemão atraiu a atenção de vários clubes do Brasil e do exterior. No mês de fevereiro, o jornal alemão “Bild” informou que Corinthians, Internacional, Atlético-MG e Grêmio tinham interesse em repatriá-lo. O jogador confirmou algumas sondagens, mas garantiu que tem o objetivo de dar continuidade a sua trajetória na Europa. Ele, inclusive, ganhou mais quatro anos de contrato com o Hertha e permanece em Berlim até o fim da temporada 2016/2017.

– Não tenho palavras para expressar a alegria de saber que meu trabalho está sendo reconhecido. Alguns clubes até me procuraram, mas optei por renovar meu contrato com o Hertha, clube que me acolheu. Tenho esperança de ainda ser convocado para a Seleção. O grupo ainda não está totalmente fechado. Jogando na Primeira Divisão da Alemanha, vou ganhar mais visibilidade. É um campeonato muito competitivo.
Martelo Hidráulico de Spree

Em boa fase, Ronny curte o carinho dos torcedores do Hertha, que lhe deram até apelido. Os alemães chamam o brasileiro de “Martelo Hidráulico de Spree”, por causa de um vídeo na internet que deu fama ao seu forte chute. A alcunha não é por acaso, já que extra-oficialmente o brasileiro é o atleta que possui o chute mais potente da história do futebol mundial, alcançando 222 km/h.

Essa marca foi imposta com o cálculo da velocidade média que a bola atingiu para percorrer 16,5 metros em menos de 27 centésimos de segundo. A finalização, no entanto, ocorrida em novembro de 2006, quando o jogador ainda defendia o Sporting-POR, não foi medida de forma oficial e por isso o recorde não pôde entrar no Guinness Book.

– Bom…O apelido surgiu no início desta temporada quando fiz um gol de falta no clássico contra o Union Berlin. Acertei uma bomba de fora da área e vencemos a partida por 2 a 1. A partir daí, os torcedores do Hertha tiveram conhecimento de um gol que eu tinha feito em Portugal, ainda pelo Sporting-POR, por meio de um vídeo na internet, e inventaram esse nome: “Martelo Hidráulico”. Tive a felicidade de acertar aquele chutaço. Ainda bem que alguém registrou.


COM A PALAVRA

Gilberto Melo
Ex-jogador de futebol 

– Fico muito contente com o título. Apesar das campanhas irregulares nos últimos anos, especialmente após a saída de jogadores mais experientes como eu, Marcelinho Paraíba e tantos outros, é muito importante ver o Hertha, principal representante da capital, recuperar seu espaço na elite, apostando em uma equipe formada por muitos meninos das categorias de base.

O Ronny e o Adrián Ramos também fizeram um ótimo campeonato e se destacaram bastante nessa campanha irretocável na Segundona. A cidade ganha muito com o retorno à Bundelisga, fiz muito amigos lá. Fico muito feliz de ver que a agremiação conseguiu montar um bom time e acertou na escolha do treinador, que, aliás, tem se mostrado muito observador. Ele mudou o Ronny de posição e o jogador tá conseguindo desenvolver seu potencial em prol da equipe, sendo vice-artilheiro da Segunda Divisão.

No entanto, a partir da próxima temporada, o nível técnico será completamente diferente. O Ronny, por exemplo, que já jogou na Bundesliga, sabe o que eu estou falando. Não é fácil! Defendi o Hertha por quase três temporadas e é muito complicado. Na Bundesliga, o nível de competitividade é muito grande. Na minha opinião, se o Hertha conseguir se manter na elite, e eu torço para isso, acho que será um verdadeiro divisor de águas na história recente do clube (de uns cinco anos para cá). Depois disso, a agremiação terá condições de retomar o caminho das conquistas.


Fonte: Lancenet