Aliciamento na base acontece com aval de Juvenal Juvêncio: ‘Futebol não é coisa de santinho’

Danilo Vieira Andrade

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René indica que Juvenal dava aval para aliciamento |
Divulgação/saopaulofc.net

As acusações ao São Paulo sobre o aliciamento nas categorias de base têm ganhado força nas últimas semanas e, apesar de o clube paulista negar todas elas, um dirigente que já trabalhou de perto com a diretoria tricolor garante que o “roubo” de atletas não só acontece, como também é incentivado pelo presidente Juvenal Juvêncio. René Simões, hoje diretor executivo do Vasco, foi diretor técnico das categorias de base do São Paulo por nove meses no ano passado e revelou ao ESPN.com.br que teve de passar até por algumas brigas internas para impedir que o aliciamento continuasse acontecendo quando ele estava lá.

Segundo René Simões, de fevereiro a novembro do ano passado, o São Paulo não teve nenhum caso de “roubo” de jogadores da base porque ele próprio não admitia isso e, quando acontecia, mandava devolver o jogador. Foi assim com Mosquito, um atacante formado no Vasco, que estava sem receber no clube carioca e chegou ao time tricolor sem que a equipe cruzmaltina tivesse recebido nada pelo jogador.

À época diretor técnico são-paulino, René não aceitou o atleta e ele acabou indo para o Atlético-PR em um imbróglio que só terminou neste ano, quando a equipe paranaense pagou ao Vasco R$ 750 mil para assinar um contrato profissional com o atacante.

Mas esse não foi o único caso em que René Simões foi contra o que acontecia nas categorias de base do São Paulo e, em conversa com o ESPN.com.br, ele revelou outra situação em que viu o próprio presidente Juvenal Juvêncio incentivar o aliciamento.

‘O que o São Paulo faz não é ilegal, mas é imoral. Quando eu estava lá, todos sabiam da minha forma de agir, então não acontecia muito. Mas eu lembro de um caso de um jogador do Cruzeiro que o presidente [Juvenal Juvêncio] queria e ele fez uma reunião comigo e com o Geraldo [de Oliveira, gerente da base]. O Geraldo falou sobre o código de ética que tinha sido combinado na CBF, mas o presidente disse: “Futebol não é coisa para santinho”‘, contou René.

Na própria entrevista coletiva que concedeu na última quarta-feira no Vasco, René citou rapidamente a mesma história para endossar suas críticas à forma como o São Paulo vem agindo nas categorias de base. ‘Lamento profundamente a situação. O que acontece é que dois jogadores da Portuguesa foram levados pelo São Paulo. Um nascido em 2000 e outro em 2001. É um absurdo esse aliciamento.’

Já não é de hoje que René Simões critica os trabalhos do São Paulo na base. O dirigente deixou o clube após ter tido muitos atritos com a diretoria nos meses em que ficou lá e, quando saiu, não quis detalhar os motivos pelos quais havia pedido demissão, mas deixou claro que a razão era justamente um “desentendimento” no clube com relação à filosofia de trabalho que ele queria implantar por lá.

‘Saio do cargo, deixo a missão, mas levo um pedaço de cada um dentro do peito, com o coração entristecido, com a cabeça erguida e com a alma limpa e serena do dever cumprido. Não havia como continuar, só sei trabalhar olhando dentro dos olhos. Dizer depois que: Eu sabia! É tudo que condeno num profissional, se o sei, o digo antes, depois não é importante, não resolve absolutamente nada. Saí na chuva, me molhei, me queimei, mas não aceitei viver em remorsos’, escreveu o atual diretor vascaíno em um e-mail enviado aos seus companheiros de São Paulo após sua saída.

E principalmente depois da saída de René, a , que acusam a equipe tricolor de aliciar jogadores, seduzindo-os com ofertas de salários muito altos para a categoria e até fazendo propostas especiais diretamente para as famílias dos garotos. Vasco, Grêmio Prudente, Ponte Preta, Coritiba, Corinthians, Grêmio Osasco, Cruzeiro, Goiás e, mais recentemente a Portuguesa, são alguns dos times que reclamam de terem tido atletas “roubados” pelo São Paulo.

Os casos geraram até mesmo um grande nas próximas competições da base. Tanto na Copa 2 de julho, quanto na Taça BH – dois dos torneios mais importantes da categoria – as equipes condicionaram sua inscrição à não participação do São Paulo. O time do Morumbi, por sua vez, nega todas as acusações e diz que age dentro da lei com seus atletas.

‘O São Paulo vê com tristeza essas manifestações. O São Paulo age sempre dentro do que a lei prevê e sempre respeitando os outros clubes e observando a inexistência de agentes e intermediários nas categorias de base’, disse Adalberto Batista, no CT da Barra Funda, na última quarta-feira.

Mais do que isso, o diretor de futebol são-paulino prometeu respaldo jurídico ao principal alvo das acusações dos clubes: José Geraldo de Oliveira, gerente de futebol da base do São Paulo.

‘As pessoas falam que o Geraldo alicia, Geraldo isso, Geraldo aquilo… O São Paulo deu respaldo e não só isso. Deu o corpo jurídico à disposição do Geraldo para qualquer acusação em relação à calúnia e difamação. O time vai tomar medidas porque são acusações levianas e que não fazem realidade dos fatos.’

Fonte: ESPN