Alberto Dualib, ex-presidente do Corinthians, gesticula durante entrevista ao UOL Esporte | Flávio Florido/UOL |
Aos 93 anos de idade (quase 94, como ele faz questão de ressaltar), Alberto Dualib não dá o braço a torcer. Quase seis anos depois do turbilhão que o tirou da presidência do Corinthians e levou o clube à Série B, o ex-dirigente segue lúcido e convicto de que acertou ao fechar com a MSI. Para ele, o Chelsea de hoje é um exemplo do que aconteceu no Parque São Jorge na última década.
“Eu estava certo, porque hoje tudo é parceria. Hoje não tem um clube que não tem cinco ou seis parceiros para ter jogador de futebol. Hoje a vida é parceria. Aqueles que achavam que na época o dinheiro da Inglaterra não era legal, reconhecem que até o Chelsea deveria também ser ilegal, porque o Chelsea tem a mesma origem do dinheiro para poder trabalhar e fazer um clube que é tão forte”, disse Alberto Dualib, que esteve na redação do UOL Esporte para conceder uma entrevista exclusiva.
Alberto Dualib: Eu vivo minha vida normal fora do clube, trabalhando. Embora com 93 anos, mas continuo trabalhando. Tenho meus negócios que eu preciso enfrentar, porque eu deixei minhas empresas quando entrei no clube. Por me dedicar integralmente ao clube, com essa idade, tenho de continuar trabalhando para poder viver, me manter tranquilamente e acompanhando o futebol sempre. Isso não se abandona, desde criança. Fiquei corintiano com 8 anos de idade. Morava em uma cidade no interior de São Paulo onde se recebia a Gazeta Esportiva. Era um jornalzinho pequeno. Lendo esse jornalzinho eu passei a adotar o Corinthians como meu coração.
Alberto Dualib: A maioria absoluta é de muito respeito. O tempo é o senhor da razão. Isso faz com que o pessoal reconheça que tivemos uma administração vitoriosa, que deu muita alegria para eles e seus filhos também. Hoje o Corinthians tem a maior torcida porque ganhamos 14, 15 títulos importantes. Crianças de 7, 8 anos de idade hoje são adultos e vivem uma fase boa que o clube atravessou. Isso é muito importante para mim porque faço parte de uma parte vitoriosa do clube. Agora, em relação aos acontecimentos, todo mundo sabe que 14 anos de presidente de um clube no Brasil, principalmente no Corinthians, é muito desgastante. Em relação às acusações, de parcerias, eu não fiz a parceria sozinho. Fiz com o apoio de 400 conselheiros. Por duas vezes ela foi submetida à apreciação de todos eles, e todo mundo aprovou. E eu estava certo, porque hoje tudo é parceria. Hoje não tem um clube que não tem 5 ou 6 parceiros para ter um jogador de futebol. Hoje a vida é parceria. Aqueles que achavam que na época o dinheiro da Inglaterra não era legal, hoje reconhecem que até o Chelsea deveria também ser ilegal, porque o Chelsea tem a mesma origem do dinheiro para poder trabalhar e fazer um clube que é tão forte.
Alberto Dualib: Sem dúvida, tranquilo. Minha consciência é que vale. Quando o dinheiro vinha da Inglaterra, vinha através do banco central. O banco central tem um órgão lá, o Coaf, que analisa se a origem do dinheiro é legítima ou não. Ele sempre aprovou como legítima. Depois disso vem o Bradesco, fecha o câmbio e recebe esse dinheiro em favor da MSI. A MSI aplica esse dinheiro para pagar compromissos que tinha assumido em contrato. Portanto, não diz respeito a mim, como presidente, o que faziam os parceiros em relação ao dinheiro que recebiam. Portanto, eu tenho tranquilidade, sou inocente. Na época, fui usado, mesmo porque achavam que eu tinha de sair do clube. Eu aproveitei e saí, porque também achei que devia sair. Já estava lá por 14, 15 anos e meio. Quem que aguenta ficar 15 anos dentro do clube? Só mesmo Alberto Dualib conseguiu. E pacificamente, com tranquilidade, trabalhando. Eu ganhava as eleições por unanimidade. Teve eleição que eu ganhei com 5011 votos. Queriam que eu continuasse. Em relação à outra questão, sobre notas fiscais, quem é que não paga para um diretor? E na época, o estatuto permitia que se pagasse diretor que colaborasse com o clube na sua administração. E aqueles 3, 4 diretores do clube que recebiam valores ínfimos trabalhavam diuturnamente para manter o clube funcionando. E tinham de receber, porque dedicavam a vida ao clube. Hoje todo mundo reconhece que quem trabalha no clube tem de receber.
Alberto Dualib: Houve porque aqueles que trabalhavam, em vez de fazer microempresas e fazerem a nota deles pessoalmente, compravam nota. Tinha uma empresa que prestava serviço na contabilidade e fornecia nota para eles a custo zero. A bem da verdade, quem exigiu isso na época foi o Carlos Roberto Mello, meu vice financeiro. Presidente de clube não tem de ficar olhando notas fiscais. São milhares de notas fiscais diariamente. Isso passava por controle, contador, vice, por todos. Eu nunca soube que essas notas existiam. Tanto é que quando o conselho fiscal aventou essa hipótese eu mandei parar na hora.
Alberto Dualib: Acontece o seguinte. Um diretor usou táxi e táxi não dá recibo. Falando com uma funcionária que era secretária, ele pediu que ela arrumasse uma nota para legitimar a despesa. E ela tinha uma nota porque ela tinha comprado um biquíni, alguma coisa desse tipo, e isso entrou na contabilidade [risos]. Valores ínfimos, de R$ 30, R$ 40. Veja só como era o controle. Uma nota de R$ 30, R$ 40 de táxi, e teve de entrar uma nota para poder justificar a saída dos valores.
Alberto Dualib: Não.
Alberto Dualib: Não. Você sente saudades dos companheiros, de bater um papo, de passar umas horas, almoçar com eles. Eu tenho almoçado com eles fora do clube. [A gente] tem marcado reuniões, almoço com eles. Batemos papo e colocamos os assuntos em dia. E tem sido isso praticamente todos os meses. Agora, eu tenho trabalhado muito, não tenho tido tempo de me dedicar ao lazer de ir ao clube ficar horas e horas batendo papo. Não vou fazer isso porque tenho uma atividade de obras de construção civil e me toma todo tempo de trabalho para estar permanentemente acompanhando.
Alberto Dualib: Perdi muito. Eu entrei rico e saí remediado. Naquela época, para ser presidente do clube tinha de ser abonado, porque a receita era muito pouca. Você tinha de bancar muitas vezes. Toda vez que banquei, nunca fui ressarcido. Cheguei uma época a levantar R$ 1,5 milhão da minha empresa para comprar o Dener. Fechei o negócio com o [José Augusto] Pacheco, que era presidente da Portuguesa na época. Depois o Cori não aprovou, devolveu o dinheiro e o assunto foi encerrado.
Alberto Dualib: Eu não vou dizer que deve porque na época eu doei. Se você está doando, não é débito.
Alberto Dualib: Não sei quanto, mas milhões. Eu tenho cópia de cheque até.
Alberto Dualib: É uma outra mentalidade. Hoje é diferente. Na época, não se contava pela idade. Tanto que o [Vicente] Matheus tinha quase 90 anos e ainda estava no clube. É diferente. Não sei qual é o processo hoje em vigor, por isso não cabe a mim opinar sobre estarem no cargo porque foram legitimados. Aquilo que é legitimado você não pode discutir.
Fonte: UOL