Palmeirense elege Fiel a nº 1 do Brasil, mas teme fim do poropopó

Danilo Vieira Andrade

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Torcedores do Corinthians conheceram as acomodações da arena de Itaquera no amistoso de sábado

Cláudio Norrland prefere não ser fotografado pela reportagem e avisa já na contracapa de seu livro de estreia – Insuficiências, da Pontes Editores – que não tem e nem nunca terá perfil em mídias sociais. Insatisfeito com o crescente número de torcedores do Palmeiras que preferiam vaiar a incentivar os jogadores no Palestra Itália, o autor deu início, em 2008, ao projeto de estudar outras torcidas e catalogar seus comportamentos.

Em uma era que pessoas passam mais tempo agarradas a telefones celulares do que propriamente vivendo, Norrland decidiu ir a campo em vez de apenas debater com estranhos na internet ou passar seus dias publicando fotos de si mesmo como boa parte da humanidade tem feito. Ao fim de um período de cinco anos, o funcionário público formado em cinema havia se infiltrado em 121 torcidas de cinco países na América do Sul, viajado a mais de 50 cidades e escrito um romance de 416 páginas que ordena as 102 melhores torcidas do Sul e do Sudeste do Brasil e do chamado Cone Sul da América em um ranking.

‘Minha insatisfação nos jogos do Palestra Itália foi mesmo o impulso do livro. Torcedor sempre acha que a sua é a melhor torcida. Nos estádios e nos botecos ouvimos isso e também frases como ‘na Argentina é que sabem torcer’. Porém, ninguém se infiltrara entre os rivais e nas torcidas estrangeiras para efetivamente conhecê-las. Eu resolvi fazer isso’, conta Cláudio Norrland.

Envolvido com as viagens, análises e anotações, Norrland notou, na metade do processo, que tinha se tornado praticamente um ex-palmeirense. Tanto que elegeu a torcida do Corinthians como a melhor do Brasil.

‘O processo de desapego ao Palmeiras foi sempre aumentando, até que percebi, no início de 2009, que não sentia mais nada de positivo pelo clube e que nenhum outro me atraía. E não atrai até hoje. Minha diversão consiste em torcer relaxadamente contra os times de meus amigos (agora, até contra o Palmeiras), para poder tirar sarro’, explica.

‘Um dos efeitos negativos é a provável diminuição do número de torcedores avulsos que permanecerão em pé. A cadeira com encosto induz o espectador a sentar-se. Já uma arquibancada ‘nua’ e com degraus baixinhos induz o torcedor à postura em pé, a qual, por sua vez, estimula comportamento participativo com cantos e gritos de guerra’, destaca Norrland, mencionando a coreografia de uma uniformizada como exemplo. ‘As avalanchezinhas da Camisa 12 deixariam de existir com as cadeiras instaladas. Mas tenho certeza de que os corintianos não deixarão de fazer, por exemplo, o tradicional poropopó mesmo enquanto as cadeiras estiverem lá.’

Pelo menos por enquanto, o setor com ingressos mais baratos para os torcedores comuns, que antes se concentravam principalmente no tobogã (uma ‘arquibancada nua’), será bem menor no novo estádio. Administrada pelo ex-presidente corintiano Andrés Sanchez, que tem forte ligação com as torcidas organizadas, a nova arena do Corinthians tem espaço reservado para essas facções atrás do gol do setor norte inferior. As cadeiras instaladas ali pela Fifa serão retiradas após a Copa para que algumas tradições não se tornem apenas uma lenda do Pacaembu.

‘Mais da metade da capacidade do Pacaembu é constituída por setores que estão no meio termo: não têm cadeiras – somente assentos simples ou nem isso -, mas seus degraus não são baixinhos. Refiro-me à curva e ao tobogã. E são os corintianos avulsos destes setores os maiores responsáveis por ser a torcida, no Pacaembu, a melhor do Sul-Sudeste. Eles aderem à Gaviões – ou até mesmo iniciam coros – numa frequência bem maior do que a dos avulsos das demais torcidas. O perigo é que o tradicional entusiasmo dos avulsos dos setores baratos do Pacaembu arrefeça. A torcida perderia seu principal diferencial’, alerta.

Com a experiência de quem viu outras mudanças recentes de estádio no Brasil, Norrland crê que o ponto crucial é evitar que a troca de estádio seja sinônimo de elitização. ‘Nos setores baratos é que costumam ficar os torcedores mais incentivadores. Se o acesso dos torcedores de menor renda à Arena Corinthians for fácil (grande proporção de ingressos baratos, subsidiados ou doados), a torcida não esfriará, ou não esfriará muito’, opina. Sergio Barzaghi/Gazeta Press Torcedores do Corinthians conheceram as acomodações da arena de Itaquera no amistoso de sábado Muitos torcedores do Corinthians ‘esquentaram’ com os valores dos ingressos para a primeira partida oficial em Itaquera. Toda a carga (pouco menos de 40.000 bilhetes) foi vendida rapidamente para os cadastrados no programa Fiel Torcedor, porém vários usaram a ouvidoria do clube para se queixar dos preços de R$ 50 a R$ 400 (há descontos para sócios). A diretoria até tentou se justificar através de um comunicado oficial: ‘Neste começo de gestão, o clube vai errar e acertar até alinhar o serviço e os valores que pretende oferecer aos seus torcedores. Por isso, pede a compreensão e paciência de todos até chegar ao ponto ideal – e o clube promete trabalhar muito, como já vem acontecendo, para que aconteça o mais rápido possível’.

Se o Corinthians chegar ‘ao ponto ideal’, poderá manter ou até melhorar a 11ª colocação no ranking de torcidas sul-americanas de Cláudio Norrland, que colocou o rival Palmeiras no 32º lugar. Os melhores fãs, para o autor, são os do modesto Almirante Brown, da Argentina, logo à frente dos compatriotas do Boca Juniors. ‘Alguns conhecidos disseram não concordar com a classificação das torcidas de seus times. Eu não analisei torcida alguma ficando no meio da torcida adversária – eu me meti no meio de todas. Eu quantifiquei as manifestações. Eu atuei em jogos de mesmo perfil – não peguei nenhuma torcida em final de campeonato, por exemplo. O que me interessava era o comportamento das torcidas no dia a dia, e não em ocasiões de gala’, defende.

O livro Insuficiências, no entanto, é bem mais do que um ranking de torcidas na visão de um infiltrado. Ele passa por curiosidades como as práticas mais chatas nas arquibancadas, como o grito de ‘senta’ das torcidas do Palmeiras e do Santos e cita até o estádio que tem o maior número de mulheres trajando shortinhos. Há dicas para o viajante que pretende ver jogos no exterior, revelando as dificuldades de se comprar um ingresso sendo estrangeiro devido ao recente e elogiado sistema de sócio-torcedor.

Para quem já está com o bilhete em mãos, é possível descobrir pontos turísticos pouco convencionais e bares onde se consegue driblar da Lei Seca vigente perto da maioria dos estádios visitados. Quem sabe a obra possa até servir também como fonte de inspiração para que alguém saia agora mesmo da frente do computador – ou do telefone celular – para fazer seu próprio ranking.

Conheça a classificação final das torcidas segundo Cláudio Norrland:

POSIÇÃO CLUBE E ESTÁDIO
ALMIRANTE BROWN no Fragata Sarmiento
BOCA JUNIORS na Bombonera
ROSARIO CENTRAL no Gigante de Arroyito
TALLERES em La Boutique
ALL BOYS no Islas Malvinas
ATLÉTICO TUCUMÁN no Monumental
SAN MARTÍN de Tucumán em La Ciudadela
NEWELL’S OLD BOYS no Parque Independencia
UNIÓN de Santa Fe em La Avenida
10ª VÉLEZ SARSFIELD em El Fortín
11ª CORINTHIANS no Pacaembu
12ª RIVER PLATE no Monumental
13ª CORITIBA no Couto Pereira
14ª OLIMPIA em Para Uno
15ª BELGRANO no Gigante de Alberdi
NACIONAL no Gran Parque Central
RACING de Avellaneda no Cilindro
18ª ATLÉTICO MINEIRO no Independência
COLO-COLO no Monumental
20ª OLIMPO no Roberto Carminatti
21ª INDEPENDIENTE no Libertadores de América
22ª HURACÁN em El Palacio
QUILMES no Centenario
SAN LORENZO no Nuevo Gasómetro
25ª ATLÉTICO PARANAENSE na Arena da Baixada
GIMNASIA LA PLATA em El Bosque
MORÓN no Francisco Urbano
UNIVERSIDAD CATÓLICA em San Carlos de Apoquindo
29ª COLÓN no Cementerio de los Elefantes
30ª SÃO PAULO no Morumbi
31ª GODOY CRUZ no Mundialista
32ª PALMEIRAS no Parque Antarctica
PENÃROL no Centenario
TIGRE no Coliseo de Victoria
35ª INSTITUTO no Monumental
36ª CRUZEIRO no Mineirão
FLUMINENSE no Maracanã
PARANÁ na Vila Capanema
39ª ESTUDIANTES DE LA PLATA no Ciudad de La Plata
FLAMENGO no Maracanã
41ª NUEVA CHICAGO no República de Mataderos
42ª ALVARADO no Mundialista
LANÚS em La Fortaleza
SAN MARTÍN de San Juan no Hilario Sánchez
SANTOS na Vila Belmiro
VILLA MITRE em El Fortín
47ª AVAÍ na Ressacada
GRÊMIO na Arena do Grêmio
INTERNACIONAL no Beira-Rio
O’HIGGINS em El Teniente
51ª BANFIELD no Florencio Sola
CERRO PORTEÑO em La Olla Monumental
CHACARITA em Villa Maipú
COLEGIALES no Libertarios Unidos
55ª DEFENSORES DE BELGRANO no Juan Pasquale
56ª INDEPENDIENTE RIVADAVIA em La Catedral
PLATENSE no Ciudad de Vicente López
58ª CENTRAL NORTE no Martearena
JUVENTUDE no Alfredo Jaconi
SANTIAGO WANDERERS em Playa Ancha
61ª FERRO CARRIL no Etcheverri
62ª ALDOSIVI no Mundialista
63ª ESTUDIANTES de Caseros no Ciudad de Caseros
64ª BOTAFOGO no Engenhão
65ª ALMAGRO no Tres de Febrero
66ª* UNIVERSIDAD DE CHILE no Nacional
67ª DESAMPARADOS no Bicentenario
EVERTON no Sausalito
GUARANÍ em Dos Bocas
LIBERTAD no Nicolás Leoz
PONTE PRETA no Moisés Lucarelli
72ª CERRO no Luis Tróccoli
73ª CRICIÚMA no Heriberto Hülse
74ª JUVENTUD ANTONIANA no Martearena
75ª EXCURSIONISTAS no Coliseo

Fonte: Gazeta Esportiva