Desde a construção da Arena Corinthians, as piadas dos rivais com o fato de o Timão não ter seu próprio estádio acabaram. Como se não bastasse isso, tem torcedor adversário que ainda dedica seu trabalho a dar uma “forcinha” para a nova casa corintiana. O artesão Harri de Lucas Boava é o são-paulino responsável pela confecção dos símbolos do Corinthians que estão sendo colocados no estádio. Apesar da rivalidade, ele garante que a situação não o incomoda.
– É gratificante, nessa hora não tem rivalidade. Vou ajudar a alegrar a torcida deles, mas preciso ser profissional. O trabalho é um motivo de orgulho para mim. Alguns amigos falaram para eu aproveitar para virar corintiano, mas isso é impossível – disse o artista, que realiza esse tipo de trabalho há dois anos.
Se grandes empreiteiras trabalharam na construção dos estádios da Copa do Mundo, entre eles a Arena Corinthians, engana-se quem pensa que gigantes da construção civil também são responsáveis pelos detalhes que dão os toques finais às arenas. Os símbolos do Timão são produzidos dentro da garagem da casa de Lucas, em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo. E para finalizar dentro do prazo, ele tem de se desdobrar.
Aos poucos, símbolos vão sendo colocados na Arena Corinthians (Foto: Cairo Barros) |
– O escudo do Corinthians é bastante complexo, tem muitos detalhes. Normalmente eu demoraria um mês, trabalhando das 8h às 18h, mas precisei trabalhar de madrugada, por conta do prazo apertado. Se fosse do São Paulo, eu faria em uma semana, até de graça – brincou o artesão, que espera que o trabalho abra novas possibilidades com clubes de futebol.
O processo começa bem antes de chegar até a garagem de Lucas. Depois que recebe o projeto do arquiteto, são compradas as chapas de aço inox. Depois, os perfis de aço carbono, para que comece o corte à laser. Com o símbolo desenhado, inicia a parte artesanal, na soldagem com estanho. A finalização é feita com polimento e limpeza, antes da montagem e colocação.
Ao todo, a Arena Corinthians terá cinco símbolos monocromáticos que vão decorar diferentes setores. Os dois menores (2,20m x 1,72m) estão prontos e foram colocados próximos ao estacionamento da Radial Leste. Os outros três, dois de 5,85m x 4,57m na fachada, e um de 7m x 5,47m atrás da fachada de vidro, devem ser finalizados até fevereiro. Isso se a rivalidade não atrapalhar o processo.
De acordo com o empresário Amós Oliveira, responsável pela empresa contratada para realizar o serviço, o caso do artesão Lucas não foi o único envolvendo mão de obra rival. Por muito pouco, a entrega do produto não foi prejudicada pela “falta de esforço” de torcedores de outros times.
– Quando fui comprar as chapas de aço, o vendedor corintiano ficou emocionado ao saber que seria para o estádio. Isso facilitou o negócio. Por outro lado, na hora de realizar o corte à laser, teve um são-paulino que, ao saber o destino final do produto, disse que não seria possível fazer no prazo que eu necessitava. Eu precisei falar com a dona da empresa, que é corintiana, e ela garantiu o serviço, para o dia seguinte – explicou Oliveira, que ficou emocionado ao ver o trabalho final exposto no estádio.
São-paulino e corintiano trabalharam juntos no símbolo do Corinthians (Foto: Vitor Geron) |
Apesar de não torcer para nenhum time, o empresário admitiu que, pela primeira vez, entendeu a que ponto chega a rivalidade no futebol e como isso pode influenciar uma empresa sem relação direta com o esporte. Ao contar para os familiares sobre o serviço que havia recebido, por exemplo, ele ouviu as mais diversas reações.
– Os parentes corintianos começaram a pedir ingressos para jogos e visitas ao estádio, como se eu tivesse algum benefício desse tipo. Os dos outros times falavam para fazer o serviço mal feito – lembrou Oliveira, que, apesar de confiar no profissionalismo de Lucas na parte artesanal da produção, escalou o corintiano Juliano de Brito para ajudar o são-paulino.
– Para mim foi uma honra participar. Trabalhar a mais não foi dificuldade. Eu não conheço a Arena ainda e espero estar lá em breve. Sobre o Lucas, ele é bem profissional, mas dá para tirar um sarro enquanto estamos produzindo. E eu também sempre falo: “Cuidado, faz direito para não cair” – brincou Brito.
Fonte: Globo Esporte