O técnico do Corinthians não se preocupa apenas com escalações, táticas e treinamentos. Com aval da diretoria, Mano Menezes rompe com o modelo que funcionava com Tite e assume funções de um gestor no clube do Parque São Jorge, olhando com atenção da montagem do elenco à repercussão de suas falas na imprensa.
O status não é formal, mas é uma das explicações da predileção de Mário Gobbi pelo treinador. ‘O Corinthians é um time em formação. Nós queremos trazer outro André Santos, outro Leandro Castán, outro Ralf, outro Paulinho, outro Elais, outro Jucilei? Isso foi trazido pela gestão do Mano Menezes’, disse o presidente do clube.
Gobbi vê Mano como o ‘homem certo na hora certa’, e não por acaso brigou para que ele fosse o substituto de Tite. Até o ano passado, o discurso sobre o futebol alvinegro era bem diferente.
Em uma entrevista ao UOL Esporte em novembro de 2013, quando o Corinthians ainda não havia anunciado a saída de Tite, Roberto de Andrade foi taxativo. ‘Planejamento não tem nada a ver com treinador, essa é a confusão que vocês fazem. Planejamento é independente de quem vem trabalhar, e ele já vem sendo feito. Tem uma comissão técnica do Corinthians para fazer isso. Chega aqui um treinador A, não gosta de dez jogadores e manda todo mundo embora? Não é assim que funciona’, disse o então diretor de futebol.
Roberto saiu, e a filosofia mudou, muito por conta da diferença de perfil dos treinadores. Tite não comentava sobre contratações, evitava opinar sobre o futuro de seus comandados e gostava de se ater ao que acontecia nas quatro linhas, embora também fosse consultado para contratações.
Mano adota uma postura diferente. O técnico fala abertamente sobre o quanto quer que um de seus comandados permaneça, está sempre ciente do andamento da negociação atual e de olho na próxima, reunido com os observadores do clube.
‘A gente faz um trabalho em equipe. São vários os fatores para levar em consideração. Tem a parte técnica e a estratégica, e ai é o técnico que dá a opinião. Aí na parte econômica, é o clube que precisa projetar. É isso que a gente está fazendo’, disse Mano Menezes.
Mano, na prática, é quase um ‘manager’. Nos últimos anos, o termo popularizado por Vanderlei Luxemburgo nos anos 1990 caiu em desuso no futebol brasileiro. Muricy Ramalho e o próprio Tite, dois principais nomes da profissão nos últimos anos, trabalham sua imagem justamente no sentido contrário, ressaltando o foco no que acontece no gramado.
Mano vai além até das contratações. O treinador gosta de acompanhar o desenvolvimento de todos os setores do departamento de futebol, observa com mais atenção os resultados das categorias de base e calcula até como pode criar um clima ou amenizar uma situação desfavorável na imprensa antes de um grande jogo.
‘A decisão de uma contratação cabe à diretoria, mas eu preciso da opinião do Mano. Tenho de ver o que ele tem a dizer. Além de um grande treinador, ele é um grande gestor’, define Ronaldo Ximenes, diretor de futebol do clube.
A escolha de palavras é importante. O que diferencia Mano Menezes de um ‘manager’, na definição que se conhece da palavra, é a autonomia limitada e, principalmente, o acesso às questão financeiras e detalhes de negociações. Embora fique ciente do que acontece, o treinador não participa dessas tratativas.
O tema é delicado. Ao longo do sua carreira, Mano conviveu com insinuações a respeito de sua relação com o seu empresário, Carlos Leite. Sempre que questionado, o treinador viu hipocrisia nas críticas, já que outros treinadores também possuem agentes, que por sua vez encaixam jogadores nos clubes comandados por seus clientes.
No caso do Corinthians atual, Carlos Leite é, de fato, um dos parceiros mais fortes do clube, mas quase todas as vezes em transações anteriores à chegada de Mano, como Romarinho e Gil, por exemplo.
Depois que o técnico foi anunciado, no fim do ano passado, só um dos cinco reforços alvinegros chegou por meio do agente: o lateral Fagner. O Corinthians, fechado com Mano, não quer nem ouvir falar de qualquer suspeita.
‘Eu nem entro nessa história. O Mano é uma pessoa séria, idônea, correta. Isso é uma bobagem. Qualquer coisa nesse sentido é leviano. Não nos preocupa em nada’, disse Ronaldo Ximenes.
Fonte: UOL