CEO do Manchester City põe Corinthians no mesmo patamar de clubes europeus

Danilo Vieira Andrade

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ichael Regan/Getty Images Soriano ao lado do ex-treinador do City, Roberto Mancini, e do chairman do clube, Khaldoon al-Mubarak
Não foi tão à distância, contudo, que Ferran Soriano acompanhou as transformações do Corinthians nos últimos anos. Descendente de espanhóis, o então presidente Andrés Sanchez queria se inspirar em alguns exemplos administrativos que o empresário catalão havia implantado no Barcelona para resgatar o clube brasileiro da Série B em 2008. O diretor de finanças Raul Corrêa da Silva diz ter tirado dinheiro do próprio bolso para viajar à Espanha e conversar com Soriano, com quem trocou uniformes personalizados.
Para Ferran Soriano, que hoje se orgulha de comandar o rico Manchester City na maior liga nacional do mundo (‘de longe’, nas suas palavras), o Corinthians provou ter aprendido algumas de suas lições ao conquistar o Mundial de Clubes diante de um adversário inglês, o Chelsea. Questionado se o time brasileiro já é capaz de fazer frente aos europeus não apenas dentro de campo, o empresário não hesitou em afirmar com um português fluente: ‘Acho que sim, e esse é o grande desafio’.
Especialista em finanças, o CEO do City apontou justamente o poderio econômico do Corinthians como trunfo para a tão sonhada internacionalização definitiva da marca. ‘A receita do Corinthians hoje é a mesma de Ajax, da Holanda, e de Galatasaray e Fenerbahce, os dois maiores clubes turcos. É até maior do que a de 15 dos 20 clubes do Campeonato Espanhol. Ou seja, o Corinthians já pode fazer bons investimentos nos melhores jogadores ou mantê-los por mais tempo antes de vendê-los para o futebol europeu’, analisou Soriano.
De fato, o Corinthians gastou cerca de R$ 40 milhões para tirar o atacante Alexandre Pato (ainda com mercado no futebol europeu) do Milan nesta temporada. Vendeu o volante Paulinho para o inglês Tottenham no mesmo ano, porém só depois de recusar uma proposta oficial da Internazionale. ‘Os clubes brasileiros devem manter os jogadores até o momento certo – isto é, quando os seus salários e preços de mercado possam ser pagos sem arriscar a viabilidade financeira das instituições’, comentou o CEO do City, antes de fazer novos elogios à gestão esportiva de equipes do Brasil.
‘Nos últimos anos, houve uma mudança positiva para os clubes brasileiros. Em 1990, alguns times venderam por pouco dinheiro seus jogadores a times de campeonatos menores da Europa, como Ronaldo Nazário e Romário ( ambos foram para o PSV, da Holanda ), que os repassaram depois. A figura começou a mudar com a venda do Pato para o Milan, já por uma quantia bem maior, e chegou agora ao nível máximo com a saída do Neymar para o Barcelona. Os negócios principais passaram a ser feitos no Brasil, por brasileiros’, avaliou.
No Corinthians, no entanto, as maiores receitas não provêm mais das transações de atletas. O clube se beneficiou da negociação individual de direitos de transmissão televisa dos jogos de futebol no Brasil e aumentou consideravelmente os seus rendimentos. Com esse cenário, Ferran Soriano é um daqueles que acreditam em uma polarização de forças entre os times com as maiores torcidas no País – teoria já levantada pelo ex-presidente corintiano Andrés Sanchez.
‘O futebol brasileiro deverá escolher o seu modelo com cuidado. Na Inglaterra, os quase ? 2 bilhões de direitos de transmissão são repartidos entre os clubes também por meritocracia, com o atual campeão ganhando ? 120 milhões e o último colocado, ? 80 milhões. Na Espanha, a diferença é bem maior. Barcelona e Real Madrid receberão cerca de ? 140 milhões agora, enquanto o último colocado terá direito a ? 12 milhões. Pode-se argumentar que essa situação é injusta, mas a demanda e o tamanho das torcidas são as justificativas. O Brasil terá de escolher o seu modelo de reparte mais justo, fazendo um campeonato competitivo. É algo que deve ser estudado e discutido com profundidade’, orientou Soriano.
Os pontos de vista do CEO do Manchester City sobre esses e outros dilemas financeiros foram expostos no livro ‘A bola não entra por acaso’, relançado no Brasil recentemente pela Editora Lafonte. A obra não foi parar na cabeceira apenas de dirigentes do Corinthians. José Carlos Brunoro, anunciado como CEO do rival Palmeiras na gestão de Paulo Nobre, foi mais um brasileiro a prometer se espelhar na filosofia do catalão para também fazer ressurgir um time que foi parar na Série B.
Quando o assunto é o Palmeiras, no entanto, Ferran Soriano desconversa da mesma forma como faz diante de temas administrativos que vão além das finanças – ele também não se aprofundou, por exemplo, sobre o atacante argentino Tevez, vendido pelo City à Juventus depois de protagonizar algumas polêmicas na Inglaterra. O catalão crê que o modelo utilizado para o Barcelona conquistar dois títulos europeus e três espanhóis após um jejum que perdurava desde 1999 não seja o único viável para os dirigentes brasileiros.
‘O que foi feito no Barcelona pode servir como inspiração, mas do mesmo jeito que você pode estudar o desenvolvimento do futebol de base do Ajax dos anos 1980 e 1990 ou a recuperação espetacular do Borussia Dortmund, passando da falência à final da Champions League . Cada clube deve encontrar o seu próprio caminho. É preciso entender o que os outros fizeram apenas para poder inovar e encontrar a sua própria estratégia’, ensinou Ferran Soriano.
Com tantos conselhos, o CEO do City seria um bom candidato a voltar ao Brasil – não mais no ramo de telecomunicações, mas como responsável por fazer a bola deixar de entrar por acaso em times do País. ‘Tenho bons amigos no Brasil, para onde viajo bastante’, indicou Ferran Soriano, antes de avisar que continuará observando o Corinthians e outras equipes à distância. ‘Estou concentrado no City e no novo New York City FC. Não penso em outra coisa! Mas acho que o futebol brasileiro tem um futuro brilhante e vai atrair mais talentos também na gestão de clubes.’
Fonte: IG