O JORNALISMO ESPORTIVO IMPRESSO AGONIZA NO BRASIL. ISSO EXPLICA A MANCHETE DO LA

Danilo Vieira Andrade

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“Chupa, Corinthians!”

Esta foi a manchete, em letras garrafais, do Lance!

O diário esportivo mostrava ainda uma foto de Dedé sorrindo.

Um grupo financeiro o manterá no empobrecido Vasco.

Foi essa a capa do jornal no sábado, na edição do Rio de Janeiro.

Ofensiva, desnecessária.

A direção do Corinthians teve uma atitude digna.

Publicou uma carta repudiando a chamada.

Não deixou por menos.

Lembrou que é até parceiro do jornal em várias ações de marketing.

Para assegurar a sobrevivência do diário há vendas de produtos.

Em uma inversão de valores, o jornal acaba indo como brinde.

São mochilas, bandeiras, camisas, pôsteres.

É preciso a anuência dos clubes para que sejam vendidos.

Uma combinação financeira.

A direção corintiana lamentou a manchete, o ataque do parceiro comercial.

Foi além, garantiu de forma elegante que não mudará a relação com os repórteres do jornal.

A questão, no entanto, é muito mais profunda do que parece.

Não foi uma mera provocação à toa, de alguém sem inspiração.

Muito pelo contrário.

A emoção dominou quem escolheu a manchete.

O jornalismo esportivo vive uma silenciosa crise no Brasil.

Principalmente o impresso.

Muito se esperava que o cenário mudaria com a Copa de 2014.

Que o interesse sobre o futebol serviria como afrodisíaco.

Proliferariam novas publicações, principalmente jornais e revistas.

Haveria emprego, dinheiro à disposição.

Empresas querendo divulgar seus produtos, os atrelarem ao Mundial.

Fora os bilionários patrocinadores da Copa.

Mais o dinheiro da propaganda oficial do governo.

Só que nada disso aconteceu.

A divulgação de que a Copa seria no Brasil aconteceu em um momento terrível.

De grande indefinição.

De falta de rumo até dos grandes veículos impressos no País.

A popularização da Internet foi um golpe forte demais.

As grandes famílias, donas de centenários jornais, não souberam o que fazer.

Como lidar.

Várias não sabem até agora.

As pesquisas apontam que o interesse no mundo pelos jornais diminuiu.

Vários veículos de comunicação estão abandonando suas edições em papel.

A tradicional revista norte-americana Newsweek é um exemplo.

O último exemplar em papel saiu no dia 31 de dezembro de 2012.

Agora, só pelo computador.

A direção do New York Times anunciou que caminha nesta direção.

O fenômeno está acontecendo no mundo todo.

O jornal impresso está agonizando.

Os motivos principais são o imediatismo da notícia no mundo digital.

A pressa venceu a profundidade.

Do lado prático, o altíssimo custo do papel e da distribuição.

Isso atingiu em cheio o jornalismo brasileiro.

O Jornal do Brasil desde 2010 abandonou as edições impressas.

Ele começou a ser impresso em 1891.

A Gazeta Esportiva deixou de circular em 2001.

Em 1998 havia sido criado a sua versão digital, que existe até hoje.

A pressão foi aumentando.

E os investimentos fugindo da mídia impressa.

No ano passado, o drama do Jornal da Tarde.

O centenário grupo O Estado de S. Paulo não conseguiu salvar o diário.

De nada adiantou haver revolucionado a forma de cobrir futebol no País.

A falência foi completa: o jornal e o site do JT fecharam, faliram.

O grupo Marca tentou trazer para o país o tradicional jornal esportivo.

Os espanhóis se empolgaram com a Copa do Mundo.

O resultado foi desastroso.

Fechou no ano passado, depois de pouco mais de dois anos.

Em 2012, também acabou o Diário do Povo, de Campinas.

Assim como a Revista da ESPN.

Não suportou mais do que três anos.

Janeiro marca o seu último número brasileiro.

De nada adiantou sua marca tão respeitada.

A Placar deixou de ser semanal e tenta sobreviver saindo uma vez a cada mês.

Seu projeto de fazer um jornal esportivo fracassou em menos de um ano.

A saída é manter seu site.

A revista Trivela durou de 2006 a 2009.

A opção pelo digital também foi a saída.

A crise do papel é terrível.

E não poupa ninguém.

Atualmente jornais tradicionais estão ameaçados de extinção.

Pesquisas europeias são cruéis.

Apontam que apenas um grande jornal deverá sobreviver nas capitais.

O restante, virar digital.

Se não fechar suas portas.

O problema é gravíssimo.

Diários no Brasil compraram gigantescos parques gráficos.

A preços absurdos.

Famílias investiram grande parte de sua fortuna.

Acreditaram nos jornais, no papel, na impressão de revistas, livros.

E agora vivem sob enorme pressão.

No último encontro que houve no Brasil, os donos de jornais admitiram.

Erraram com a Internet.

Desprezaram sua força.

E, principalmente, demoraram para cobrar dinheiro pela informação.

Não há para, de uma hora para outra, voltar atrás.

Retirar o site com informações gratuitas e passar a exigir pagamento.

Isso porque vários veículos já se estruturaram e não cobram por notícias.

Vivem de anunciantes.

E muito bem.

Os jornais gratuitos ou vendidos a preço simbólicos ganham espaço.

Desesperam ainda mais os donos de jornais tradicionais.

Bancas ganham mais dinheiro com revistas, xerox, zona azul.

Jornais perdem até espaço para exposição.

A desistência por assinaturas é também um fenômeno da nova geração.

Famílias não querem o acúmulo de jornais velhos em casa.

A pressão explica a manchete do Lance!

O futebol carioca precisa de ídolos para vender jornal.

O dinheiro paulista mantém Neymar, Pato, Ganso, Luís Fabiano, Rogério Ceni.

O Corinthians é campeão do mundo, da Libertadores.

O São Paulo venceu a Sul-Americana.

O Palmeiras, a Copa do Brasil.

O Fluminense, clube da elite, venceu o Brasileiro para os cariocas.

Os populares Flamengo e Vasco estão afundados em crise financeira.

Longe da Libertadores.

Os ídolos escasseiam na cidade maravilhosa.

Sem Juninho Pernambucano e Felipe, o Vasco só tem Dedé.

A sua vinda para o Corinthians seria péssima não só para os vascaínos.

Poderia sim diminuir o interesse pelo diário na sua edição carioca.

O editor que escolheu a manchete pode até não ter pensado em tudo isso.

Ou até teve a reação de maneira instintiva.

A crise está presente, palpável.

Não deixou de ser um alívio ao Lance a permanência de Dedé.

Um ídolo a menos a deixar o Rio de Janeiro.

E a oportunidade surgiu de expressar o sentimento pelo rico futebol paulista.

Dinheiro que torna mais fácil a venda da edição de São Paulo do Lance!

“Chupa, Corinthians!” não foi uma brincadeira.

Nem uma provocação.

Mas um desabafo involuntário diante da situação.

A questão vai bem além da rivalidade entre Rio e São Paulo.

Questiona a sobrevivência dos jornais impressos.

E dos próprios jornalistas.

Donos de veículos de comunicação do Brasil inteiro estão tensos.

Estudando o que fazer para sobreviver.

Atônitos diante da inviabilidade do papel na era digital.

Enquanto eles não descobrem que atitude tomar.

Ainda mais diante do interesse das novas gerações.

O mundo digital tomou o lugar do papel.

Crianças dominam ipad, adolescentes se informam no iphone.

Não querem saber da tinta do papel.

A solução para os imediatistas é tentar vender o máximo de jornais possível.

Quanto mais exemplares, melhor.

Escancarando a questão, tudo fica transparente.

Fácil de entender.

“Chupa, Corinthians!” do Lance RJ é ingênua, inofensiva.

O quadro é caótico, irreversível.

O jornalismo impresso agoniza no Brasil.

Principalmente o esportivo…
Fonte: r7