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Jubão em seu “habitat natural”: torcedor inferniza técnicos rivais assim que a bola rola (Foto: Guto Marchiori) |
Nesta quarta-feira, o técnico Tite, do Corinthians, vai conhecer alguém que leva ao pé da letra um dos bordões que ele mesmo criou: ‘Fala muito’. Paulo Moraes Júnior, mais conhecido como Jubão, é a arma secreta do XV de Piracicaba para o duelo contra o Timão, às 22h, no Estádio Barão de Serra Negra. Torcedor fanático do Nhô Quim e ‘mala profissional’, ele não entra em campo, mas é impossível ser ignorado pelos técnicos adversários. Só perguntar para Luiz Felipe Scolari, Vanderlei Luxemburgo e, muito em breve, Tite, a próxima vítima.
A especialidade de Jubão é infernizar os professores rivais. A posição é estratégica para a missão: junto ao alambrado, a cinco metros do banco de reservas dos visitantes. É dali que Jubão bate o tempo todo em uma placa de lata personalizada que ganhou da diretoria, com o desenho da palma da sua mão e seu nome grafado, e grita insultos decorados após estudar a vida do oponete ao longo da semana. Haja garganta e braço para tirar a concentração dos treinadores. E pensar que a ‘função’ do quinzista esteve ameaçada no começo do ano.
Nos primeiros jogos do XV de Piracicaba no Paulistão, a Polícia Militar ordenou a retirada da placa sob o argumento de que o barulho irritava os cães. Mas Jubão contou com ajuda de outros torcedores para reaver o direito de atormentar. Para azar dos treinadores. Para azar de Tite.
– O pessoal daqui das cadeiras pediu o retorno da placa e eles liberaram. De tanto que eu bato, alguns policiais chegam e pedem calma e brincam: ‘Bate mais devagar, pois vai cair o alambrado’ – disse o fanático.
A vítima da vez tem nome e sobrenome conhecidos internacionalmente desde o final do ano passado: Adenor Leonardo Bacchi. Campeão da Libertadores e do Mundial de Clubes pelo Timão, Tite vai sentir de perto as tiradas de Jubão. O torcedor garante que já tem tudo estudado e preparado para tentar desconcentrar o corintiano.
– Já sei o nome da esposa e da filha dele. É preciso esse estudo para pegar bastante no pé dele. Tenho que deixá-lo bem irritado. Dizem que ele costuma ficar bastante bravo quando isso acontece. Sempre tem alguém que me conta alguma coisa dele – disse Júnior, cujo apelido herdou na adolescência, devido a uma vasta cabeleira que já não existe mais.
No repertório contra Tite, não pode faltar o já conhecido ‘fala muito’, utilizado pelo treinador em uma partida contra o Palmeiras, ao se dirigir ao então rival Felipão. Mas os gritos de Jubão não terão apenas o técnico como destino.
– Já separei vários para o Tite. ‘Fala muito, corneteiro…’. Eu já tenho algumas histórias e quando ele entrar em campo já começo. No aquecimento mesmo eu já xingo quem estiver junto. Massagista, preparador físico, auxiliar… Já tento descobrir o nome de todos da comissão técnica para não falhar um – garantiu.
Histórico de desafetos vai de Vilson Tadei a Felipão
Tite não será o primeiro treinador famoso a sofrer com Jubão. Na década de 90, o atual gremista Vanderlei Luxemburgo já teve o desprazer de ser hostilizado pelo fanático torcedor do XV. Na ocasião, ele era o comandante do Bragantino e não teve tranquilidade para orientar o seu time.
– Ele veio cheio de estilo do vestiário. Quando chegou aqui perto, eu o chamei. Ele se virou e eu comecei a xingá-lo. Ele ficou bravo demais. Os que mais sofreram, porém, foram os técnicos de Séries A2 e A3, pois o XV ficou 16 anos longe da elite. Nas finais de 2011, o Vilson Tadei (então técnico do Guarani) ficou muito bravo e chegou a me chamar de filho da p… – disse o torcedor.
Campeã com a seleção brasileira em 2002, a inseparável dupla Luiz Felipe Scolari e Flávio Murtosa também viveu a ira da Jubão. No início de 2011, XV de Piracicaba e Palmeiras realizaram um amistoso no Barão da Serra Negra. O torcedor tirou a calma dos palmeirenses.
– Os dois ficaram bem bravos comigo. Em um amistoso, eu falava assim: ‘Vocês estão loucos, sair de Portugal e assumir o Palmeiras’. Nossa, o Murtosa ficou bravo demais. Ele virava e gesticulava em minha direção – completou.
De tanto pegar no pé, Jubão já teve que se curvar diante de um antigo adversário. Na quinta rodada do Paulistão do ano passado, o torcedor fez tudo para tirar Estevam Soares, então no Oeste, do sério – e conseguiu mais, já que o resultado tirou o treinador do cargo. Dias depois, porém, o comandante foi contratado com a missão de salvar o XV e apaziguar os ânimos da torcida, inclusive os de Jubão, que comemorou com Estavam a permanência do clube na elite.
– Eu bati na placa e gritei para ele: ‘Estevam, você vai cair’. O Oeste perdeu o jogo e ele foi demitido. A TV fez a matéria sobre o jogo, colocou minha fala e disse: ‘O profeta Jubão’. Depois, ele foi contratado pelo XV e logo no primeiro encontro ele me falou: ‘Cara, você enche o saco’. Depois conversamos tranquilamente.
Apesar de sua diversão ser direcionada especialmente aos adversários, Jubão garantiu que nos últimos jogos também aparece atrás do banco de reservas para cornetar sua própria comissão técnica. Isso porque o XV não vence há seis jogos (quatro derrotas e dois empates) e está em situação complicada na luta do rebaixamento.
– Tem que bater forte até mesmo para acordar os jogadores do XV. Utimamente tenho xingado até mais o pessoal do XV do que o adversário. Foi tão difícil para chegar à elite e, por isso, tenho que pegar no pé mesmo. Já veio cada time jogar aqui e, agora, quando é a vez dos grandes, precisa segurar. Com o time em má fase, eu não consigo dormir.
Fonte: Globo Esporte