Gobbi diz que Corinthians cogitou abandonar Libertadores e revela planos do clube

Danilo Vieira Andrade

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O Corinthians se incomodou tanto com a punição que recebeu após o caso Oruro que cogitou deixar a Copa Libertadores. É o que revela o presidente Mário Gobbi, que, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, diz ter sido convencido pelos torcedores alvinegros a tentar virar o jogo “dentro da arena”.

“Foi falado, foi cogitado, nós pensamos. Mas eu, no terceiro dia, me convenci. Ouvi muita gente, fui às ruas, ouvi conselheiros, membros da diretoria do Corinthians, e ficou bem claro para mim que a gente tinha de lutar dentro da arena e não fora dela. Achei e acho que é uma atitude que, se um dia for tomada, de princípio vai parecer algo inovador, mas depois vai cair num buraco sem fundo”, disse o presidente.

A ideia ganhou bastante força entre os pares de Gobbi na administração alvinegra e foi noticiada pelo UOL Esporte e outros veículos em 23 de fevereiro. Três dias antes, em uma quinta à noite, a Conmebol havia determinado que o Corinthians jogaria todas as suas partidas no torneio com portões fechados, como punição pelo fato de torcedores brasileiros terem usado um sinalizador em Oruro, na Bolívia. O disparo do artefato matou Kevin Espada, jovem de 14 anos, e abalou a participação do clube na Libertadores.
O clube reverteu ao menos parte da punição fora de campo, mas a campanha terminou de forma melancólica dentro dele. O Corinthians caiu diante do Boca, no Pacaembu, em um jogo marcado por erros graves do árbitro Carlos Amarilla. Nesta entrevista, Mário Gobbi fala sobre a atuação do paraguaio e as críticas de seus subordinados à competição, entre outros assuntos.
Confira a conversa abaixo, na íntegra:
UOL Esporte: O que o senhor espera que aconteça com o Jorge Henrique e por que o episódio foi tão duro para vocês?

Mário Gobbi: Não foi duro o que aconteceu. Nas relações profissionais, no dia a dia, surgem questões embaraçosas e aconteceu com o Jorge. É uma questão pessoal, e eu defendo a tese de que não devo expor a vida pessoal de ninguém. Nós estávamos na fase dos mata-matas da Libertadores e do Paulista e dissemos: ‘Vamos deixar o tempo correr um pouco, clarear as coisas, para vermos que solução vamos dar’. Só que não temos essa solução ainda. A situação do Jorge é que ele é jogador do Corinthians, tem contrato até dezembro de 2014, mas não posso te dizer do futuro dele no clube ou fora dele. Estamos vendo, conversando muito e vamos chegar em um bom termo para todos.

UOL Esporte: Pelo que a gente ouve, parece que é só uma questão de mercado, de encontrar uma solução boa para ele.
Mário Gobbi:
 Mas pode ser que não apareça uma solução boa. Não é só uma questão de solução boa. O Corinthians tem contrato e paga o salário dele. É situação mais ampla do que colocar no mercado. Por isso que estamos tratando com a delicadeza que o assunto merece, até pela história dele aqui no Corinthians. Nós não temos mágoa, rancor, nada dele. Não é isto. Nem se trata de perdão. É uma relação profissional, de desgaste, que nós precisamos saber o que é melhor, e nós não encontramos o que é melhor.

UOL Esporte: Com isso, o Corinthians dá uma lição ao resto do elenco, dizendo que segue exigindo o mesmo profissionalismo?
Mário Gobbi:
 O profissionalismo nem é preciso exigir. Está implícito no contrato a parte do jogador, como também não precisa exigir que o clube cumpra sua parte, que é dar condições, pagar em dia. Esse grupo do Corinthians tem uma maturidade muito grande. Ele não precisa de exemplos, lições, nada. Muito pelo contrário, eles podem dar o exemplo, eles dão o exemplo e eles dão as lições. Eles são protagonistas em tudo. De modo que o Jorge, as coisas foram se sucedendo de uma forma, as questões foram se repetindo e estamos em um impasse do que é melhor para o Jorge, o que é melhor pro Corinthians. Estamos nesse meio termo. E até agora não achamos. Queremos o bem para os dois.

UOL Esporte: É a segunda medida dessa, depois do Adriano. O senhor se considera menos boleiro e mais linha dura do que a média dos cartolas?
Mário Gobbi:
 O Adriano foi uma medida da presidência, o Jorge já foi do departamento de futebol. É difícil dizer não, você ter uma postura que requer um profissionalismo de resultados. Você não pode ser só isto, um robô. Você também lida com pessoas. Tem de ser humano, solidário, saber que os jogadores também têm os problemas pessoais como todo mundo tem. Tem de achar um meio-termo aí. Acho que temos feito isso de uma boa forma, tanto que os casos são raros e sempre se procurou acertar a melhor saída. Vejo que o grupo é muito bom, os problemas são mínimos, normais e tem em todo setor de atividade.

UOL Esporte: O senhor não se acha linha dura?
Mário Gobbi: Primeiro que eu não interfiro no futebol. Eu implantei uma gestão descentralizada. A diretoria de futebol tem autonomia plena de conduzir o processo e isto tem sido feito desde o primeiro dia que eu aqui cheguei. As decisões, 99% das vezes quem toma são os membros diretivos do departamento de futebol, mais a comissão técnica. Claro que eu sou consultado, comunicado, mas em 99% das vezes eu concordo com o que eles pensam e sempre fechamos juntos. No futebol existe uma diretoria, e cabe a ela dar o conteúdo, o condão, o norte de como o departamento deve seguir.

UOL Esporte: Em 2009, o Corinthians fez uma grande campanha no primeiro semestre, mas vendeu três jogadores fundamentais [André Santos, Cristian e Douglas]. Na ocasião, o senhor explicou que “futebol é business”. Hoje o Corinthians está numa situação parecida com relação a Ralf e Paulinho. O senhor continua achando que futebol é business?
Mário Gobbi:
 Então, eu acho que foi uma frase muito forte para a nossa cultura, que eu me arrependi de ter dito e retiro a frase. Acho que não é business. Quanto ao assédio sobre os jogadores nossos, isso é normal porque o jogador se destaca, vem os clubes de fora, que a moeda vale três vezes mais que o real, e é uma luta dos brasileiros para mantê-los aqui. O compromisso nosso é manter sempre um grupo não desmontar o time. É óbvio que, por ciclo, um ou dois jogadores é normal trocar. Mas não deixarmos passar mais que isso daí. Dessa forma, conseguimos manter 98% do time com o padrão, e isso tem sido o segredo do sucesso do nosso trabalho. É difícil dizer não, lutar contra o capitalismo selvagem que vem em busca de jogadores. Adicione-se a isso os problemas financeiros que todos os clubes do Brasil tem, mas nós estamos lutando com todas as nossas forças e temos obtido êxito em continuar com toda a maioria do nosso grupo, vide Ralf, Paulinho e etc.
 
UOL Esporte: O Corinthians já fez tudo que podia para manter o Paulinho?
Mário Gobbi:
 O Paulinho é um jogador que tem uma relação com o Corinthians de altíssimo nível. Por duas ou três vezes ficou conosco. Fizemos um contrato com ele da altura, do patamar que ele merece. Ele está em uma situação muito peculiar. O Corinthians já fez tudo que podia fazer? Não, não fez. Pode fazer mais? Pode. Precisa ver se o Paulinho quer isso. O que o Paulinho quer? O Paulinho acha que chegou a hora dele sair? Precisa ver isso. Nas duas vezes passadas ele achou que não. Segundo, tem de vir proposta. O que existe é uma expectativa absoluta de certeza de que virá uma proposta. Mas essa proposta ainda não chegou aqui. Como vieram os dois últimos anos, é tido como certo que virá, mas ainda não veio. Quando chegar, vamos sentar com o Paulinho, o que ele quer, o que ele pretende, aonde ele pode chegar e vamos ver o que é bom.

UOL Esporte: O senhor disse que futebol não é mais business. Futebol é o quê?

Mário Gobbi: Futebol é um esporte que envolve muito dinheiro, isso não tem como negar. Mas é um esporte. Uma paixão muito forte. Chega a ser uma obsessão muito forte. A pessoa projeta a vida dela no time de futebol. É muito forte isso daí. Eu não tenho nenhum constrangimento de mudar de opinião. E nem de dizer que quando disse aquilo eu errei. A vida você vai vivendo, aprendendo, evoluindo. Se a eu disse algo que deu uma repercussão tão grande, que me fez pensar tanto sobre isso, me fez fechar um conceito novo… É a primeira vez que eu falo disso, nunca falei até para não ficar dando repercussão. Falei de forma consciente, falarei daqui pra frente, sem problema nenhum. Não se ganha sempre, não se perde sempre. Montar um time leva tempo. Tem de ter continuidade. Passa uma fase, ganha, empata, perde, tira jogador, põe qualidade, foi assim que fomos montando esse time. Esse time não é um trabalho de agora.

UOL Esporte: Quando o senhor  se manifestou sobre a arbitragem após o jogo com o Boca, o senhor não foi tão contundente quanto alguns de seus colegas de clube. Na sua opinião, os erros do árbitro Carlos Amarilla foram erros ou houve má-fé?
Mário Gobbi:
 Na situação do Emelec, eu tinha um jogo de volta e um campeonato pela frente, nesta não tinha mais nada pela frente. Então não adianta. São posturas distintas. Acho que o Amarilla foi muito mal na arbitragem dele. Acho que o Amarilla foi tendencioso, prejudicou deliberadamente o Corinthians. Eu só não quero crer e não posso crer que ele tenha feito isso de má-fé, mas a arbitragem dele tirou o Corinthians da Libertadores.
*Nota da Redação: No ano passado, o árbitro colombiano José Buitrago expulsou Jorge Henrique no primeiro jogo das oitavas da Libertadores, contra o Emelec. Irritado, Gobbi chamou o juiz de “caseiro” e insinuou uma atuação “comprometida”.
UOL Esporte: Mas o senhor usa a palavra “deliberadamente”.
Mário Gobbi:
 Deliberadamente quer dizer nitidamente, incontestavelmente. A arbitragem dele foi danosa para o Corinthians. Ele causou um estrago.
UOL Esporte: Mas deliberadamente não significa que ele fez de propósito?
Mário Gobbi:
 Não necessariamente. Não tenho como provar se fez isso de propósito, não tenho como dizer se ele fez isso de propósito. Só quero crer que ele não tenha agido com dolo, com má-fé. Quero crer que ele foi fez um trabalho danoso, com erros crassos e que tiraram o Corinthians fora. O deliberadamente não é dolosamente. O termo foi mau posto. Ele fez uma arbitragem que evidentemente tirou o Corinthians da Libertadores.
UOL Esporte: O senhor diz que “não quer crer que houve má-fé”, mas alguns de seus pares afirmaram o contrário. O senhor é uma voz destoante no clube?
Mário Gobbi:
 Então vou ser mais técnico. Há indícios de que ele tenha agido com a intenção de prejudicar o Corinthians. [Isso] é uma coisa. Agora, ele agiu com a intenção, isso é outra coisa. Todo mundo ficou em dúvida ou com a impressão de que o Amarilla agiu de má-fé. Tanto é que você está me perguntando isso. Agora, eu sou presidente do Corinthians, não posso afirmar que ele fez isso. Agora, há indícios, há uma vertente de raciocínio que pode levar a isso.
UOL Esporte: Mas se há indícios, como presidente o senhor não acha que era o caso de protestar na Conmebol?

Mário Gobbi: Para fazer uma representação contra um árbitro, você pode fazê-lo de duas formas, isso é regido pelo direito. Ou faz por escrito ou verbal. Verbalmente eu representei contra o Amarilla na coletiva que eu dei. Eu disse que ele tirou o Corinthians da Liberadores, que ele interferiu diretamente no resultado da partida, que ele fez uma arbitragem lamentável no jogo, e que eu acho e entendia que a Conmebol tinha de analisá-lo e puni-lo. O que eu poderia escrever num papel além disso que disse? A Conmebol viu o jogo, porque ela tem quem veja, ela tem uma comissão de arbitragem, de disciplina. Ela sabe o que o presidente do Corinthians falou. Ela tem de agir. Eu já fiz minha representação. Nós fizemos uma representação contra o árbitro do Emelec. Foi a mesma coisa. Fizemos um papel, mandamos. Eles instauraram lá. Cabe a eles. Desta vez eu não coloquei no papel, mas o fato ficou de conhecimento mundial, ou será que só a Conmebol não viu o jogo principal da Libertadores? É uma atitude que não é o Corinthians que tem de tomar. Você tem de ir à Conmebol perguntar aos membros da Conmebol qual a atitude que eles vão tomar contra o arbitro Amarilla. Essa é a questão.

UOL Esporte: O Corinthians hoje é oposição ao Marco Polo. O senhor já disse que vai ficar do lado do Andrés na disputa pela CBF. Que peso isso pode ter nesse cenário?
Mário Gobbi:
 O que eu posso falar se o Marco Polo é presidente da FPF e o Corinthians foi campeão paulista? O Corinthians tem uma relação com CBF e FPF excelente, de extremo respeito, e nós somos muito bem tratados e apoiados pelas duas entidades. O apoio que tivemos no episódio de Oruro, tanto da CBF quanto da federação, foi perfeito. Tudo que precisamos eles fizeram. Ocorre que o Andrés é do Corinthians, é ex-presidente da casa, meu companheiro de grupo político. E não faz sentido eu não apoiar e votar no Andrés. Isso eu nem precisava dizer ao Marin nem ao Marco Polo. Nós conversamos sobre isso. [Disseram:] ‘Mário, não precisa nem falar. Se você não apoiar o Andrés, quem vai apoiar?’. Agora, todos, FPF e CBF e Corinthians, até agora, têm tido uma maturidade ímpar na relação de interesses que o clube tem e na relação de trabalho que a FPF e a CBF desenvolvem. Prova disso é que ganhamos o Paulista. Não há animosidade, clima de rivalidade. Muito pelo contrário Nossa relação pessoal e institucional é a melhor possível. Eles sabem que meu parceiro, meu antecessor, o eterno presidente Andrés Sanchez, é do Corinthians, então vamos apoiá-lo.
UOL Esporte: Em entrevista na semana passada, Roberto de Andrade [diretor de futebol do Corinthians] diz que o futebol sul-americano, brasileiro e paulista é “falido”. O senhor concorda?

Mário Gobbi: Isso é um assunto que daria mais ou menos uns cinco programas para a gente debater, falar. É complexo. Ele pôs tudo em uma frase. Eu acho que ele fez um desabafo, porque estava em um momento de revolta grande, como todos nós. E eu não consigo analisar aqui, nessa conversa nossa, um assunto da complexidade desse porte que você me traz. Agora, a opinião dele eu respeito. E acho que cada um deve externar aquilo que pensa.

UOL Esporte: Vamos tentar separar, então. A Libertadores voltou a ter vários problemas, os dirigentes reclamam que a cota de TV não é boa. Vale a pena seguir participando? Estão tentando mudar?Mário Gobbi: Quando o Corinthians teve a punição de jogar com portões fechados, recebi vários Dom Quixotes dizendo: ‘Vamos tirar o time da Libertadores. Libertadores é uma porcaria, é um lixo. Tira o Corinthians daí e acabou’. Só que o povo na rua, o corintiano que eu encontrava não pedia isso para mim. Diziam: ‘Presidente, vamos ganhar mesmo com portão fechado, vamos buscar o bi’. Você tem de analisar o Corinthians em um universo de 33 milhões de pessoas, e não 30 mil. Ou nem isso, de mil pessoas. O presidente do Corinthians tomar uma decisão de tirar o time da Libertadores? Isso é uma violência que eu acho que o mandato que eu tenho não me dá poder. Teria de passar pelo Cori, Conselho e assembleia geral. Aí poderia ter respaldo para dizer que o Corinthians não vai disputar a Libertadores. Esse discurso é muito bonito na teoria, depois passa um mês: ‘Pô, mas o Corinthians não tá na Libertadores?’ Com relação à Libertadores, ela precisa melhorar bastante mesmo. Ela não é rentável, as condições… Eu não gosto de falar, mas você vai jogar em locais precários, com condições difíceis, em campos bem diferentes do que um Pacaembu, um estádio com estrutura. Na verdade ela se tornou um campeonato dentro e fora de campo. Porque fora de campo tem uma série de problemas que você tem de contornar. O vestiário, a chegada, se você vai treinar, se vão deixar você treinar, tudo isso que vocês sabem. Jogador vai bater escanteio tem de ter proteção para não jogarem coisa nele. Mas isso é um retrato do mundo sul-americano. A Libertadores é o retrato dos países que formam esse continente. Tem problemas? Tem. Tem de melhorar? Tem. Estive com o presidente da Conmebol, gostei muito dele, achei um homem dinâmico. Está com vontade de mudar, inovar e melhorar. Um clube só não faz verão. Não adianta um sair na frente com uma espada de Conan achando que vai mudar o mundo todo, porque a espada se volta contra si mesmo. Vamos juntar os clubes e fazer uma força-tarefa pra ver se muda algo? Vamos. Mas não cobre de um clube individualmente que ele seja o Conan, que saia pregando, por exemplo, a saúde pública que eu gostaria de ter no país, ou a distribuição de renda que eu queria que o país tivesse. É muito complexo isso daí. E logo quando nós sofremos a punição, eu fiz de proposito. Eu fui um sábado andar na rua, pra sentir a reação da torcida. E nenhum falou: ‘Já ganhamos, tira daí’. Ninguém falou. E levei comigo meu secretario geral. O que eles disseram foi outra coisa. Isso na teoria é bonito, mas na prática precisa tomar uma série de cautelas, ter respaldo do clube. E acho que um clube só não faz verão. Você teria de formar aí uma frente para mudar o que tem pela frente.

UOL Esporte: Coisa que não existe hoje.Mário Gobbi: Não existe.

UOL Esporte: Naquele momento em que os Dom Quixotes apareceram o senhor disse que foi às ruas. Posso dizer que passou pela sua cabeça sair da Libertadores?
Mário Gobbi:
 Passou. Claro que passou. Nós nos reunimos aqui, pensamos o que fazer. Você receber uma punição de que vai jogar uma Libertadores inteirinha de portões fechados? Então espera um pouquinho. Compensa eu continuar na Libertadores se eu não vou ter a receita [com a qual] eu vivo? O campeonato em si dá prejuízo para os clubes. Eu vivo das rendas quando o jogo é na minha casa, porque lá fora a receita não vale nada. E nem isso eu vou ter? Então espera um pouquinho, o que eu estou fazendo? Nós paramos pra pensar. Foi falado, foi cogitado, nós pensamos. Mas eu, no terceiro dia, me convenci. Ouvi muita gente, fui às ruas, ouvi conselheiros, membros da diretoria do Corinthians, e ficou bem claro para mim que a gente tinha de lutar dentro da arena e não fora dela. Achei e acho que é uma atitude que, se um dia for tomada, de princípio vai parecer algo inovador, mas depois vai cair num buraco sem fundo.
UOL Esporte: Você sabe de quanto foi o prejuízo na Libertadores?
Mário Gobbi:
 O número de cabeça eu não tenho. Ficamos sem as quartas, a semi e a final. Foi um prejuízo. Quer dizer, prejuízo foi o primeiro jogo. Os demais você só ganha se ganhar no campo. Não é que tinha essa receita e ela não entrou. Você tinha uma expectativa de poder vir a ganhar essa receita se no campo o time batesse o adversário.
UOL Esporte: Como é hoje a relação com o Andrés Sanchez?
Mário Gobbi:
 Excelente. Depois que ele saiu da CBF eu fiquei feliz porque tenho mais ele me ajudando aqui. Ele é responsável desde o começo, junto com o Luiz Paulo [Rosemberg, ex-diretor de marketing]. Ele é o pai do estádio, da construção. Coincidentemente, o Luiz pediu para se afastar e ele saiu da CBF. Quer dizer, a gente tinha os dois, um precisou ir para a CBF, ficou o Luiz. O Luiz pediu para se afastar, ele voltou. O estádio é uma obra que quem conduz é o Andrés, o coordenador é o Andrés. Ele trabalhou para esse estádio nascer, ele é o pai dessa criança e eu quero ver, com todos os méritos, ele inaugurar o estádio. Estarei lá para aplaudi-lo. É muito mérito dele a concretização do sonho do estádio. Nossa relação é a melhor. É de aconselhamento, de diálogo, de lutas em comum, é muito bom.
UOL Esporte: Eu te perguntei isso porque nas reuniões de Conselho do clube o maior opositor da sua gestão é o André Luiz Oliveira, grande aliado do Andrés.
Mário Gobbi:
 O André Luiz, ele faz isso e vai fazer isso a vida toda. Na verdade ele faz um personagem. E o pior, ele acorda, põe no Facebook uma bomba, desliga o Facebook e passa o dia inteiro fazendo as coisas dele. No dia seguinte ele acorda, põe outra bomba no Facebook, desliga e vai. E morre de rir. E todo mundo fica se matando no clube.
UOL Esporte: Mas ele fala que quer ser candidato à presidência e ele não me parece ser o seu candidato à presidência. Aliás, quem é seu candidato á presidência para as próximas eleições?
Mário Gobbi:
 É um direito de todos ser candidato a presidente do Corinthians. Se ele for candidato e fizer a maioria de votos, ganhou a eleição. Sucessão ainda tem um ano e meio pela frente. E uma das coisas que fizeram bem o Corinthians na gestão passada foi deixar a política para o finzinho da gestão, porque isso atrapalha o clube. Então, não serei eu que darei o start no processo. Farei tudo para segurar o processo. A conversa de Corinthians é cativante, os sócios conversam isso diariamente, mas eu não posso entrar nessa pilha. Meu candidato é o candidato do meu grupo, que nós vamos definir mais lá na frente. Quando o Andrés era presidente, jornalistas me perguntavam: ‘O senhor vai ser candidato?’ Minha resposta era: ‘Acho um desrespeito falar disso no meio do mandato do presidente Andrés’. Acho desrespeito não comigo, mas com o cargo de presidente, um desserviço ao Corinthians. Acho que tudo tem sua hora. A eleição vai ser em fevereiro de 2015. Estamos em maio de 2013.
UOL Esporte: Foi pessoalmente duro para o senhor ver a proposta de um novo estatuto não passar?

Mário Gobbi: Não. Eu tenho um pensamento um pouco diferente de muitos aqui dentro. Quando eu saí candidato, nós nos comprometemos a fazer a eleição do conselheiro proporcional. Isso ficou como um compromisso de campanha nosso. Muito bem. Para isso tem de mudar o estatuto. Conversei com o presidente do Conselho: ‘Olha, conhecendo o Corinthians como o conhecemos, vamos cuidar da mini-reforma já. Porque se deixar perto das eleições aí vai virar palanque eleitoral’. O Conselho aprovou uma comissão de reforma estatutária. Reforma não é assunto do executivo, é do legislativo do clube, que é o Conselho. A comissão foi composta, sugestões foram mandadas, eles fizeram um anteprojeto e mudaram pequenos quatro pontos. E colocamos em votação. Só que o que passou no conselho foi: ‘Não se muda nada’. Eu não pedi voto para ninguém. Meu compromisso era a proposta. Meu compromisso não era de aprovar. Não posso mandar em 40 pessoas. Tem uma frase minha no Lance!: ‘Cada um que carregue seu paralelepípedo’. Todo mundo quer ser conselheiro, só que na hora que a coisa pesa, para votar tem de assumir o peso do seu voto. Eu não fiz campanha para uma coisa nem para a outra. Não trabalhei contra nem a favor. Nós apenas apresentamos. O que eu fiz no conselho foi defender o trabalho da comissão, porque teve colega que se manifestou tecendo críticas e isso é uma injustiça. Foi um trabalho perfeito, um processo perfeito para se votar. O conselho que responda ao sócios pela decisão que ele tomou, não é o presidente que vai responder. As pessoas dizem: ‘O senhor perdeu?’ Eu não perco nada. Quem perde ou ganha é o Corinthians. Para quem achava que era bom mudar a forma de eleição dos conselheiros, perdeu. Para quem achou que está bom, ganhou.

UOL Esporte: Existe movimento a favor do Juvenal Juvêncio para a eleição da FPF. O senhor votaria nele?
Mário Gobbi:
 Desconheço um movimento para o Juvenal ser candidato. É a primeira vez que eu ouço isso. Nunca ouvi isso, falando sincera e honestamente. É cedo para se definir, para falar qualquer coisa. Vamos esperar para ver quem são os candidatos. Vamos ouvir aqui a diretoria e na hora certa o Corinthians vai se manifestar no voto aberto, com certeza. Por enquanto só se fala em eleições para CBF. Presidente da FPF não se tá falando nada.
UOL Esporte: E o que o senhor ouve a respeito de CBF?
Mário Gobbi:
 Que o Marin vai apoiar o Marco Polo. É o que a gente ouve. E o Andrés seria o outro nome.
UOL Esporte: Mas fala-se na tentativa de costurar um outro nome, com apoio do Andrés.
Mário Gobbi:
 Também nunca ouvi falar disso, que eu saiba. Está muito embrionário. É claro que as pessoas estão se mexendo, todo mundo trabalhando em bastidores. Ninguém vai colocar a cara para bater. Vamos aguardar. Não sou candidato a nada, estou pendurando as chuteiras ao fim do meu mandato e estou louco para voltar para o Salve Jorge [bar do Parque São Jorge] tomar minha cerveja.
UOL Esporte: Não dá para fazer isso agora?

Mário Gobbi: É que não tem tempo. O Corinthians é muito pesado. O trabalho é muito intenso, fim de semana tem compromisso. É desgastante mesmo. Mas nós estamos fazendo com amor. Metade já se foi e queremos entregar no fim cumprindo todas as promessas de campanha que fizemos. 

Fonte: UOL