Após reunião realizada na última quinta-feira, no centro de treinamentos do clube, a diretoria do Corinthians decidiu manter o técnico Tite no cargo até o fim do contrato, em dezembro deste ano. No entanto, a sequência do comandante pode ser ainda mais longeva. O presidente da equipe alvinegra, Mário Gobbi, afirmou que o atual treinador é o nome que ele pretende para 2014. As conversas sobre renovação, porém, ainda dependem do time atingir 47 pontos no Campeonato Brasileiro.
Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Gobbi explicou que essa pontuação é uma marca-padrão estipulada por Tite no ano passado. A diretoria alvinegra pretendia renovar o contrato do técnico antes de viajar para o Mundial de Clubes da Fifa, mas ele pediu para as negociações serem postergadas até o time atingir ao menos 47 pontos e afugentar qualquer risco de descenso. Neste ano, vão proceder da mesma maneira.
‘Se eu for falar com o Tite hoje, ele vai dizer que enquanto o time não fizer 47 pontos, melhor não conversar. Então, o que existe é isso: o Tite é nosso técnico, e nós queremos que ele fique. Nós estamos bem com ele há três anos e temos uma relação excelente. A prova disso é que contra a Portuguesa ele entregou o cargo, mas nós não aceitamos’, contou Gobbi.
Segundo o mandatário corintiano, Tite pediu demissão depois de o time ter perdido por 4 a 0 para a Portuguesa. Na quarta-feira, contudo, esse assunto não foi discutido. Após um revés para o Grêmio, a equipe alvinegra chegou a quatro partidas consecutivas sem triunfar (três empates e uma derrota) e sem marcar gols.
Ainda que a diretoria não tenha iniciado negociações para renovar o contrato de Tite, o planejamento da próxima temporada está em andamento. Gobbi admitiu que o Corinthians busca reforços e falou abertamente sobre a aposentadoria do lateral-direito Alessandro, campeão da equipe na conquista do título mundial.
UOL Esporte: Quais foram as pessoas que participaram da reunião de quinta-feira?
Mário Gobbi: Olha, quem participou da reunião foi: o diretor de futebol [Roberto de Andrade], o diretor-adjunto de futebol [Duílio Monteiro Alves], o gerente-técnico [Edu Gaspar] e eu.
UOL Esporte: Nenhum jogador?
Mário Gobbi: Depois… Depois… Depois nós fizemos uma reunião com o Tite. Quando acabou tudo, nós saímos da sala e encontramos alguns jogadores que estavam terminando a fisioterapia. Aí nós os chamamos, e o Tite não participou disso. Aí eu, o Roberto, o Edu e o Duílio chamamos os atletas, conversamos com eles e mostramos o problema. Falamos sobre a situação desconfortável e cobramos uma reação e uma mudança de postura que o time precisa ter para voltar a jogar o futebol que o fez ganhar todos os títulos.
Foi isso que aconteceu. A reunião foi da presidência com a diretoria de futebol e o gerente-técnico. Nós conversamos depois com o Tite, falamos sobre a situação e os problemas. Falamos sobre planejamento e o que poderia mudar até o final do ano. Quando terminou, se você conhece o CT, sabe que é tudo muito próximo. Nós chamamos os jogadores e batemos um papo, mas sem marcar nada. Ocasionalmente eles estavam lá. Nós os chamamos e dissemos: ‘olha, o problema é por causa disso, disso, e disso’.
UOL Esporte: Quais foram os jogadores?
Mário Gobbi: Olha, eu preciso lembrar [faz silêncio durante alguns instantes]. Estavam o Paulo André, o Alessandro, o Fábio Santos e mais alguém que eu não lembro. Foram os que não viajaram. Os que viajaram foram liberados assim que a delegação chegou a São Paulo.
UOL Esporte: E como foi a conversa com eles?
Mário Gobbi: Todos falamos. Eu falei, Duílio falou, Roberto falou, Edu falou e eles falaram. Houve uma cobrança. O Corinthians não pode estar passando por esse momento, que é um desconforto grande para um clube de tradição. Nós temos de reagir. Fomos conversando, e falamos sobre os problemas que estamos vivendo.
UOL Esporte: O que os jogadores falaram?
Mário Gobbi: Que eles querem, mais do que nunca, reagir e voltar a vencer e jogar o que vinham jogando. Na verdade, o futebol tem coisas que você não consegue explicar. Não tem uma explicação ou um motivo para o time ter caído tanto de produção, mas isso acontece com os todos, principalmente com aqueles que ganham tudo. Todos que ganharam seguidamente títulos da importância que o Corinthians ganhou têm uma queda. Até o Barcelona teve uma queda. Os outros times do Brasil que ganharam também tiveram essa queda. Se você me perguntar se houve algum problema no clube, vou dizer que não tem nenhum problema lá. Nada. Nós só precisamos retomar o rumo.
UOL Esporte: O grau de cumplicidade do Tite com o elenco tornou-se um problema?
Mário Gobbi: É tudo. É uma concha de cristais com detalhes que fazem o time ser campeão. A mesma concha de detalhes faz o time cair de produção. Não tem um ponto, mas um mar de detalhes. O futebol é um mundo de detalhes. Eu costumo dizer sempre que um time campeão tem de ter uma constelação favorável ao título. Senão, não ganha. É mais fácil um camelo passar no buraco de uma agulha do que você montar um time campeão. Você citou um detalhe: eles estão há muito juntos, e isso pode gerar uma acomodação. Esse é um detalhe, mas há outros. É claro que o convívio depois de você ganhar tudo, com títulos internacionais, pode gerar acomodação. Mas não é só isso, e isso não é o principal. É uma série de contusões, de detalhes, de momento. Tudo isso converge para um declínio de produção. Temos de retomar.
UOL Esporte: Se a questão emocional é apenas um ingrediente, quais são os outros? Faltou comprometimento dos atletas em algum momento?
Mário Gobbi: Desgaste. O Corinthians vem há seis anos disputando títulos. Em seis anos, ganhamos oito títulos e fomos duas vezes vice. Em seis anos, chegamos a dez decisões. No último ano, estivemos em cinco finais. Foi pesado. Cada final e cada título criam um desgaste muito grande. Você não tem só um desgaste físico, mas emocional. Esse grupo foi submetido a uma série de decisões em um espaço muito curto de tempo. Os outros fizeram e caíram, e nós caímos também. Eu não quero citar nomes de outros clubes por uma questão de ética, mas se você pegar os campeões da Libertadores e do mundo no Brasil, todos passaram pela mesma coisa. O Barcelona não é o maior time do mundo? E ele não teve uma queda? Se só o Corinthians ganhar, não precisa ter campeonato. Você não ganha a vida toda. Não existe uma base vencedora para seis anos ou sete anos. Você não consegue manter. Perder faz parte da vida.
UOL Esporte: A queda de rendimento do time tem relação também com a idade de alguns jogadores?
Mário Gobbi: Não! Você está falando isso porque temos Danilo, que tem 30 e alguma coisa, Alessandro, que vai se aposentar no fim do ano, e Sheik, que tem 30 e alguma coisa. Os outros são novos. Pode pegar jogadores como Cássio, Edenilson, Cléber, Gil, Fábio Santos. Não temos um time velho.
UOL Esporte: Todos esses fatores geram um desgaste. É imprescindível o elenco passar por uma reformulação no início do próximo ano?
Mário Gobbi: O planejamento de 2014 está sendo feito e vai ser executado. Vamos reforçar a equipe para o ano inteiro e esperamos ter um 2014 tão vitorioso quanto 2013, quando nós ganhamos dois títulos. Nós não ganhamos títulos há três anos, mas há três meses! Espero que o próximo ano seja igual 2013 e que façamos uma Libertadores como a deste ano, mas que não sejamos roubados como fomos pelo [árbitro Carlos] Amarilla. Foi histórico o que aconteceu no Pacaembu naquela noite. Foi uma coisa histórica no futebol.
UOL Esporte: Esse planejamento de 2014 inclui o Tite?
Mário Gobbi: Se depender do Corinthians, sim. No ano passado, fomos para o Mundial. Então, nós queríamos viajar com o contrato do Tite reformado. O Tite disse que só conversaria sobre reforma quando o time atingisse 47 pontos no Brasileiro. Se eu for falar com o Tite hoje, ele vai dizer que enquanto o time não fizer 47 pontos, melhor não conversar. Então, o que existe é isso: o Tite é nosso técnico, e nós queremos que ele fique. Nós estamos bem com ele há três anos e temos uma relação excelente. A prova disso é que contra a Portuguesa ele entregou o cargo, mas nós não aceitamos. Se algum diretor aqui tivesse alguma coisa para reclamar do Tite, teria feito quando ele entregou o cargo.
UOL Esporte: Como foi a conversa com o Tite depois da derrota para a Portuguesa? O que ele disse?
Mário Gobbi: Ele nos deixou à vontade e entregou o cargo. Disse que podíamos mudar o rumo da condução dos trabalhos, mas nós dissemos que não.
UOL Esporte: Quantas vezes ele fez isso? Ele também entregou o cargo depois da derrota para o Grêmio?
Mário Gobbi: Só essa vez [contra a Portuguesa]. Contra o Grêmio nem se falou sobre troca de treinador. Foi uma reunião de trabalho. Foi algo que só teve essa repercussão toda porque perdeu e porque o time vem em uma sequência ruim. Já havia o precedente da Portuguesa, e as pessoas acharam que podia se repetir. Mas não se repetiu, e ele não entregou o cargo. Nós conversamos sobre o que nós precisamos.
UOL Esporte: Depois da reunião, os jogadores pediram para o Tite ficar?
Mário Gobbi: Não houve esse assunto! Não tratamos desse assunto entre nós e nem com os jogadores! A reunião foi da diretoria com a presidência. Depois, a diretoria com o Tite. A terceira não foi uma reunião: ocasionalmente, chamamos para conversar os jogadores que estavam na fisioterapia. Dissemos que o Corinthians não pode ficar nessa situação. Não se falou sobre o Tite. E quem decide sobre o técnico, com todo respeito, não é o jogador. Quem decide se treinador fica ou sai é a diretoria. Contra a Portuguesa, quando ele teve uma atitude, os jogadores ficaram sabendo e se manifestaram. Isso é corriqueiro. Agora, nós temos uma confiança muito grande no Tite. E um respeito maior ainda. Não fosse assim, teríamos aceitado a demissão contra a Portuguesa. Eu estou comprando uma p… briga para manter o Tite, e ainda tenho de provar que eu quero ele aqui. Alguma coisa aí não bate.
UOL Esporte: A diretoria é unânime nessa defesa ao Tite? Quando ele entregou o cargo, todos os responsáveis pelo departamento de futebol pediram para ele ficar?
Mário Gobbi: A diretoria que você fala é formada por Roberto, Duílio e eu. Todos pensam assim.
UOL Esporte: Você se arrepende de alguma atitude tomada como presidente do Corinthians?
Mário Gobbi: Nenhuma. Graças a Deus, peco sempre peça ação e não pela omissão. Eu me aconselho, consulto meus pares na diretoria, peço a Deus que me dê sabedoria e decido sempre com a fé. Quem decide com a fé erra muito pouco.
UOL Esporte: Se o Corinthians for eliminado na Copa do Brasil, existe alguma chance de a diretoria mudar de ideia e tirá-lo do cargo?
Mário Gobbi: O Tite vai cumprir o contrato dele até o final do ano. Esse assunto está encerrado.
UOL Esporte: E para a próxima temporada?
Mário Gobbi: A informação de que ele não fica é a mesma que a imprensa inteirinha deu ontem: que ele seria demitido.
UOL Esporte: Qual vai ser o tamanho da renovação do elenco para a próxima temporada?
Mário Gobbi: Esse é um planejamento que está feito, que está nas mãos do Edu Gaspar. Está sendo tratado com calma, com o seu devido tempo. Em todo final de temporada é natural trazer reforços. Nós vamos fazer isso.
UOL Esporte: Para quais posições serão esses reforços?
Mário Gobbi: Temos as posições, mas não se fala sobre isso. Você não fala, senão dá um tiro no pé. É um planejamento que está sendo executado pela equipe técnica, que é chefiada pelo Edu Gaspar. Isso é algo que se trabalha em silêncio.
UOL Esporte: O STJD incluiu o Corinthians na denúncia de conflitos entre torcedores e policiais no clássico contra o São Paulo. O que o senhor achou disso?
Mário Gobbi: Ah, o Corinthians foi denunciado também?
UOL Esporte: Foi. O senhor acha que isso tem alguma relação com as relações que o senhor deu depois do clássico?
Mário Gobbi: É até complicado falar sobre isso. Eu fico com a letra de Raimundo Fágner: ‘Eu só queria ter do mato, o gosto de framboesa, para correr entre os canteiros e esconder minha tristeza’. O que eu vou falar? O que você quer que eu fale? O que eu posso dizer sobre uma loucura dessas? Cada um tem sua consciência. Não sei que prova que eles têm, mas a torcida do Corinthians, e as imagens são claras, em nenhum momento fez algo.
Eu não sei o que aconteceu. Sei o que eu vi no estádio, e o que eu vi não foi um problema com a torcida do Corinthians. A torcida do Corinthians estava no reservado dela, quieta.
Foto: UOL
Fonte: Terceiro Tempo
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