Na terceira parte da entrevista exclusiva para o ESPN.com.br, Andrés Sanchez falou, contrariado, sobre a situação atual do Corinthians. O ex-presidente do clube disse que não tem mais nada a ver com o alvinegro, negou qualquer problema com o atual comandante Mario Gobbi e comentou sobre o repasse de informações para a imprensa, por pessoas de “mau caráter”, como ele mesmo classificou.
Sobre o futuro do time, Sanchez não quis comentar. O ex-dirigente do clube paulista ainda respondeu, ou não, sobre outros assuntos, como o selinho do Sheik, a cobrança de pênalti de Alexandre Pato, a relação da torcida organizada e sua opinião sobre as punições para a violência nos estádios.
Veja a entrevista, na íntegra.
Espn.com.br: Qual o balanço que você faz do ano do Corinthians? Andrés Sanchez: Não sei. Não tenho nada a ver. Como torcedor, triste pelo segundo semestre. Todo time tem altos e baixos, e o Corinthians é mais um.
Que jogadores você procuraria para a próxima temporada?
Nenhum. Não tenho mais essa obrigação.
E como torcedor?
Ah, não vou falar. Não me meto nisso.
Relação com o Mario Gobbi, como está?
Do mesmo jeito que sempre esteve. Respeito muito, quando ele pede alguma opinião eu dou, quando ele não me pede eu não me meto.
Dentro do Corinthians dizem que a relação piorou por conta das suas declarações de que quem cuida do clube é o Mario Gobbi. É verdade?
Estão mentindo. Falaram uma coisa que você fez sábado à noite. Você fez mesmo?
Pede uma entrevista para o meu assessor que eu te respondo.
Você ouviu falar… Nem sempre é verdade. Hoje no Corinthians tem tanto mau caráter falando para a imprensa em off que é brincadeira.
Você citou um deles, inclusive, né?
Quando?
Na última nota sua para a imprensa. [Texto da nota divulgada na terça-feira: “Quero aproveitar para deixar bem clara a minha posição em relação ao Departamento de Futebol do Corinthians, desde que sai da presidência do time, não participo de nenhuma decisão no futebol. A pessoa que plantou a notícia de que sou contra o Tite, que é de dentro do clube, é mentirosa e não tem caráter”]
Não citei ninguém. Disse só que dentro do clube tem um mau caráter.
Quem que é?
Ah, você é bem informada.
Sou. E a relação com o Guilherme Prado, assessor de imprensa do Corinthians?
Nenhuma, graças a Deus. Mal me cumprimenta.
Ele vai ser promovido?
Não tenho nada a ver com isso. Veio me entrevistar sobre o Corinthians? Não era pra ser. Não tenho nada a ver com o Corinthians, nem com o Guilherme.
Mas pode ser uma demonstração de Mario Gobbi de quem manda no clube?
Mas quem manda é ele. Você tem dúvidas disso? Eu não tenho. Sou um simples conselheiro vitalício do Corinthians. Quando alguém me pergunta alguma coisa, eu dou minha opinião. Se não perguntam, eu não falo nada.
Mas e o Roberto de Andrade, diretor de futebol, não pediu sua opinião sobre o Tite?
Não tem que pedir para mim.
Não ter é uma coisa…
E se pedisse eu não ia dar. Não tenho que me meter nisso. Quem tem de definir é a presidência do clube e a diretoria do futebol. Eu não estou no dia a dia. É fácil falar sim ou não.
Mas você é uma figura importante, normal pedirem sua opinião.
Eu e mais um monte de gente. A administração não é mais minha. Ajudo no que eu puder e no que quiserem, mas a administração não é mais minha. Toda administração tem erro e acerto. Mas eu não fui chamado. O máximo é uma ou outra consulta por telefone.
Mano Menezes faria bem para o Corinthians?
Mano é um grande treinador, um dos melhores do país.
Cairia bem?
Não sei. Ele é um dos maiores treinadores do país.
Torcida organizada, o que prejudica? Falando também de outros clubes e das perdas de mandos.
Acho que a torcida é um reflexo da sociedade e tem bossais em todos os lugares. Na torcida organizada, no jornalismo, na polícia, entre os políticos, em todo lugar tem bossais e animais. Infelizmente muitos clubes estão pagando por isso. Mas eles são membros da torcida, como tem também na sociedade.
Você acha que não tem de punir clubes?
Acho que tem de punir a pessoa que faz o ato. Não é porque eu dou um soco em uma pessoa que precisa punir meu pai, minha mãe ou minha família. Tem de punir quem fez o ato. E hoje tem câmeras e tudo gravado, todo mundo sabe quem são. E acho que no futebol tem de se punir tecnicamente, se não tiver perda de pontos não adianta. Multa e perda de mando não adianta muito. Perda de ponto, cair de divisão, essas coisas.
O STJD apresentou essa proposta esta semana, de punir violência com perda de pontos e portões fechados. Você concorda?
Eu (clube) não posso responder com perda de ponto porque um cara deu um soco no outro no restaurante do estádio do Corinthians. Eu não posso perder ponto ou ser rebaixado porque saiu uma turma de dentro do estádio e brigou na rua. O que o clube pode fazer sobre isso? Tem de punir quem brigou.
E as diretorias de clubes, podem fazer o quê? Ajudar com a estrutura de câmeras?
Isso é obrigação, pelo Estatuto do Torcedor, e no estádio inteiro. Foi pego brigando, tem de ser punido.
E como você vê a relação das diretorias com torcida organizada?
Sempre tive e se um dia voltasse para o clube continuaria tendo. Sem problema nenhum. A maioria do pessoal das organizadas são legais, mas tem os vândalos. Se tem bandido, assassino dentro delas? Tem. O poder institucional do país é quem tem de punir.
Nesse momento do Corinthians, a torcida começa a pegar no pé dos jogadores, procurar quem vai para a balada…
Não acredito nisso.
Não? Por quê não?
Fala um jogador do Corinthians, fora o Edilson, que foi agredido?
Não estou falando em agressão, na verdade, mas de cobrança…
Vocês escrevem isso.
Bem, eu não escrevi isso.
Vocês escrevem que estão caçando os caras.
Você é contra cobranças?
Não falei que sou contra. Sou contra esse negócio de perseguição, vigilância em casa noturna. Isso é ridículo. Agora se você encontrar um jogador no restaurante, não me sinto no direito, mas posso cobrar. Ou na balada. Mas ficar seguindo é mentira.
Você cobraria se encontrasse?
Não, não tenho esse estilo. Acho que o cara tem de ser cobrado no lugar de trabalho dele, dentro do campo.
Antes de começar a entrevista, a gente estava falando sobre a relação da diretoria com os jogadores, de sair para a balada e tal. Isso continua acontecendo nesta gestão…
Com quem?
Não vou citar nomes.
Eu vou no Vila Mix, estão dois jogadores lá, vou fazer o quê? Falar para ficar longe de mim? Eu sempre saí com jogador de futebol e nunca escondi isso. E qual o problema? Deixou de ganhar o campeonato? Uma coisa é estar no profissional e outra coisa é estar no seu espaço de lazer. Mais uma vez isso é coisa de pessoas maldosas. Isso é ridículo.
E no momento de crise? Pode continuar saindo?
Cada um faz aquilo que quer. Fora do horário de trabalho, ninguém tem de ser babá de ninguém.
A torcida tem de entender isso?
Se ela não quiser entender, que não entenda. Cada um tem o direito de sair com quem quiser. Quando tem festa no Vila Mix, tem torcedor e tem jogador. Quer dizer que eles foram juntos? Isso é a coisa mais ridícula que tem.
Mas importa se se encontraram lá ou se foram juntos?
Não. Por isso que estou falando que é ridículo.
Mas é fácil de manter a relação profissional?
Não é questão de ser fácil, é normal. Na sua empresa tem festa de final de ano, festa de aniversário, vai o dono, vai o chefe. Muda o quê?
Mas se eu sou um jogador e você é um diretor e nós vamos juntos para a balada e no dia seguinte eu chego atrasada no treino…
Aí você tem de punir o jogador.
Mas eu estava com você…
Você pune do mesmo jeito. Tem lá na CLT.
Mas a moral que você tem é a mesma, para punir o jogador?
Isso vai de pessoa para pessoa.
O que você achou do selinho do Sheik?
Nada a dizer sobre isso. Acho que é uma coisa de cada um, pessoal.
Acha que influenciou no clima do Corinthians?
No clima não. Acho que teve uma pressão em cima dele desnecessária. Ele fez um ato isolado fora do clube, que muita gente não gostou. Mas cada um tem o direito de fazer aquilo que quiser.
Você recomendaria que ele se preservasse?
Ele tem 34, 35 anos. Quem sou eu para dar conselho?
O que você achou do pênalti do Pato?
Ele arriscou, errou e agora tem de arcar com as consequências do erro dele. Se tivesse feito o gol, todo mundo estaria falando e vocês também estariam falando da personalidade dele. Infelizmente o futebol é risco. E às vezes você arrisca e perde.
É jogador para o Corinthians?
Ele é jogador para qualquer time do mundo.
E é para ficar no Corinthians, mesmo depois de um lance assim?
Isso não sou eu quem decido. Como torcedor, quero todo jogador bom no Corinthians.
A última, para você não ficar bravo, você acha que o Edu Gaspar fica no ano que vem?
Acho que você precisa entrevistar o presidente Mario Gobbi.
Acha que fica ou não?
Não sei porque motivo mudaria ele, mas é um problema da direção.
Se o Mano chegar, não atrapalha?
Não sei. Pergunta para os dois.
Uma discussão como essa que aconteceu com o São Paulo nesta semana, não atrapalha na CBF?
Não tenho mais nada a ver com o Corinthians.
Você não tem mais nada a ver com o Corinthians?
Não. Não faço parte da administração e não decido as coisas.
Se você não ganhar na CBF, tem planos para o Corinthians?
Nenhum plano para o Corinthians. Vou fazer um esforço enorme para nunca mais ser candidato. Vou fazer um esforço para não ser.