Bastidores do título Mundial teve terremoto que assustou

Danilo Vieira Andrade

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Torcedor inventou que tio estava à beira da morte
para ganhar folga e visitar elenco no hotel, no Japão

O Corinthians levou ao Japão a esperança de milhões de torcedores rumo à mais sonhada conquista de sua história. Muitos se recordam das defesas de Cássio e do gol salvador de Guerrero contra o Chelsea, mas poucos conhecem alguns dos perrengues enfrentados e rituais que o elenco se apegou para levar ao Parque São Jorge à inesquecível taça, conquistada há exatamente um ano, em um 16 de dezembro.

Em solo asiático, o rival a ser batido não foi apenas o milionário Chelsea, então campeão europeu. Os alvinegros tiveram também pela frente terremoto e neve em saga que contou com uma acertada escala em Dubai e com superstição e fé de Tite, Emerson Sheik e Paolo Guerrero.

Supersticioso, Sheik preparou seu ritual da sorte para a viagem. O atacante colocou na mala um ursinho de pelúcia e a chuteira usada na final contra o Boca Juniors, onde marcou os dois gols do título da Libertadores.

O bichinho já o acompanhou na viagem a Dubai, na primeira escala para a disputa do torneio.

Já Paolo Guerrero se agarrou à fé para conseguir ir a campo no Mundial. O peruano embarcou ao Japão sem condições de jogo devido a lesão no joelho. O tratamento iniciou-se semanas antes e prosseguiu dentro do voo de São Paulo a Dubai. As infiltrações no joelho ajudaram a minimizar as dores.

‘Eu sou católico. E vocês sabem que nesses momentos a reza é importante. Eu rezei bastante. Já a infiltração doeu pra c…’, dizia Guerrero.

Tite, por exemplo, buscou uma igreja em Nagoya para que pudesse rezar. ‘Não peço para rezar com o objetivo de ganhar. Peço proteção’

O tratamento intensivo e a reza surtiram efeito. Guerrero marcou os dois gols do Corinthians no Mundial de Clubes: nas vitórias contra o Al Ahly e Chelsea, ambas por 1 a 0.

O festejo do título no Japão foi breve. Jogadores e funcionários do clube tiveram apenas 3 horas de comemoração realizada no salão de festas hotel em que estavam hospedados. Isso porque às 7h da manhã do horário local eles tiveram de embarcar rumo a São Paulo, onde seria o grande evento de celebração.

Sustos na viagem

Após a vitória na semi contra o time egípcio, o elenco corintiano ganhou folga. Nagoya tremia por causa de um terremoto ocasionado por um abalo ocorrido a mais de 500 km de distância (7,2 pontos na escala Ritcher).

‘Teve terremoto? Cara, eu estava comprando umas coisas e nem percebi. Foi forte?’, disse Emerson, misturando resposta com pergunta.

Dias antes, em Dubai, outro susto. A porta do avião que levava o elenco para o Japão se abriu. Foi uma pequena abertura, mas suficiente para Paulo André e Chicão trocarem de assentos.

‘Eu que não tenho medo de avião fiquei branco’, disse o lateral Fábio Santos.

Fiel no Japão

A torcida corintiana invadiu o Japão. O deslocamento de torcedores do clube para o Oriente foi amplamente destacado pela Fifa. A final em Yokohama foi acompanhada por 58 mil espectadores. Os corintianos eram esmagadora maioria nas arquibancadas.

Para assistir ao Corinthians in loco, sobraram histórias curiosas e bizarras. Morando há 20 anos no Japão, Takashi Sato inventou ao chefe que o tio estava à beira da morte justamente para ganhar uma semana de folga no serviço. A mentira foi sustentada por meses para ganhar ares de realidade.

‘Inventei que meu tio estava quase morrendo. Aí todo mês eu falava que esse meu tio estava piorando. O chefe foi acreditando. Na semana do Mundial eu disse que meu tio tinha piorado muito e que não teria mais volta. Ganhei folga para ver os últimos dias do meu tio. Na verdade vou poder ver o Corinthians a semana toda’, detalhou.

Torcedor fanático, o serralheiro João Paulo vendeu pingentes e cortou presentes dos filhos no Natal justamente para ir ao Japão. Em solo oriental, ele ficou um dia perdido. João se confundiu e não foi para Nagoya, descendo em outra cidade de nome parecido, segundo ele.

Sem saber o que fazer para ser compreendido no Japão, o serralheiro desenhou um campo de futebol a funcionários de um hotel. Daí um japonês entendeu se tratar de um torcedor do Corinthians e o ensinou a seguir para Nagoya.

‘A gente vai se perdendo, mas vai se achando. Pelo Corinthians a gente aprende a falar até japonês’, sorriu João Paulo.

Chelsea: crises internas na Ásia

Enquanto a Fiel pintava o Japão de preto e branco, a torcida do Chelsea era tímida no país sede do Mundial. Apesar de uma grande loja com produtos do time em Yokohama, poucos ingleses foram até a Ásia torcer pelos azuis de Londres. Mas, a bem da verdade, alguns fãs japoneses fizeram plantão no hotel para ver Fernando Torres e companhia de perto.

Mas os dias do então campeão europeu no Japão não foram lá tão tranquilos. A torcida do Chelsea nunca engoliu Rafa Benítez no comando do time, em razão de seu passado como rival, pelo Liverpool. No Japão, os ingleses levaram aos estádios faixas de protesto e cantaram o nome do ídolo José Mourinho.

Para enfrentar o processo de rejeição da torcida e conquistar a confiança do elenco, Benítez tentou apostar no Japão em iniciativas extra esportivas, como uma noite de boliche com os jogadores e uma carta pública endereçada à torcida.

Antes do jogo, o clube inglês já tinha também uma operação montada para deixar o Japão às pressas, graças a um compromisso pela Copa da Liga Inglesa (Capital One) na quarta-feira seguinte. Tudo em razão de uma vaidade pessoal de seu proprietário, o magnata russo Roman Abramovich, rival pessoal do acionista majoritário do Leeds United, Ken Bates.

Após a derrota por 1 a 0, uma instante de tensão nos vestiários. Coadjuvante no time, o jovem brasileiro Lucas Piazon soltou os cachorros sobre a atitude contra o Corinthians: ‘faltou muita coisa para a gente, e principalmente, a vontade de ser campeão. Acho que o Ramirez, o David Luiz, só os brasileiro foram os únicos que se empenharam ao máximo, deram a raça, e por isso estão tristes’.

Fonte: UOL