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Empresário de Cristiano Ronaldo, tira promessa da base do Corinthians

Danilo Vieira Andrade

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“Haverá um dia em que vão levar a criança ainda na barriga da mãe, se a saída de jogadores continuar sendo cada vez mais cedo”. A frase de Mauro Galvão, zagueiro de duas Copas do Mundo e atual diretor das categorias de base do Vasco, resume o tamanho do problema. Apesar do regulamento restritivo e da marcação cerrada da Fifa, a saída de menores de idade para jogar fora de seus países de origem é uma realidade em todo mundo. No Brasil, o problema persiste e ameaça a renovação do nosso futebol.

O caso notório mais recente ligou o sinal de alerta no país pela precocidade. João Neto, de 11 anos, deixou o Corinthians. Com o empresário Jorge Mendes, o mesmo que gerencia a carreira de Cristiano Ronaldo, seguiu ao lado dos pais para morar em Portugal. Para Ney Souto, gerente das divisões de base do Botafogo, quem mais perde com a partida de meninos tão novos é o futebol brasileiro.
– Esses garotos não estão formados, prontos. Perdem a identidade com o nosso futebol, a parte lúdica, do futebol de rua, que é muito importante – destacou.

Quem também sofre são os clubes. Atualmente, eles podem fechar contrato de formação com jovens a partir dos 14 anos. O documento, assinado com os responsáveis pelos meninos, dá alguma segurança. Mas, antes de chegar a essa idade, os garotos têm liberdade para deixar o clube a qualquer momento. Carlos Noval, diretor executivo da base do Flamengo, revela que resta tentar convencer os jogadores, na conversa, a não sair:

– Com a globalização, os meninos já chegam pensando em jogar no Barcelona, no Real Madrid, no Chelsea. Eles pensam que a saída vai encurtar esse caminho. Conversamos o tempo inteiro para mostrar a eles o quanto é importante se profissionalizarem pelo Flamengo, cumprirem todas as etapas.

O problema não é uma exclusividade do Brasil. O Newell’s Old Boys, da Argentina, perdeu ninguém menos que Lionel Messi, então aos 13 anos, para o Barcelona, sem receber nada por isso. A ação predatória de agentes e clubes europeus não ocorre apenas tendo o futebol sul-americano como vítima. Na última semana, o Chelsea acertou com o goleiro francês Nicolas Tie, de 13 anos e 1,85m, que atuava no Poitiers.

– A legislação precisa mudar e proteger mais o clube formador. Por enquanto, estamos expostos, e os meninos acabam saindo cedo demais – lamentou Mauro Galvão.

A Fifa tenta combater o problema. Porém, na legislação há uma brecha que permite a existência de casos como o de João Neto: é permitida a inscrição de menores em clubes estrangeiros caso ele deixe o país de origem acompanhando uma mudança dos pais.

Segundo o superintendente técnico das categorias de base do Corinthians, Marcelo Rospide, essa foi a alegação usada pelo pai do menino, Deivis Rota, na hora de comunicar o clube da saída.

– Ele disse que foi uma decisão da família, que eles não estavam viajando em função do menino. Ele disse que vai trabalhar com futebol lá. A gente tenta entender os motivos pessoais. O clube, em função da legislação, não tem o que fazer – afirmou.

Ainda não se sabe ao certo qual será o destino de João Neto em Portugal. Para ser inscrito para jogar por outro clube, seu caso será analisado pela Fifa. Segundo Marcelo Teixeira, gerente da base do Fluminense, ele dificilmente conseguirá autorização para defender um clube europeu antes dos 18 anos:

– Isso tem acontecido menos. A Fifa está muito rígida, analisa cada caso individualmente e é muito criteriosa na hora de permitir a inscrição. Procuram saber se estão tentando burlar o regulamento.
O que a entidade não consegue proibir é a ida do menino para treinar no clube estrangeiro. Assim, o garoto passa anos participando apenas de treinamentos, vetado de disputar jogos oficiais.
– Isso atrapalha a formação – lamenta Rospide.

A saída do Corinthians aos 11 anos foi mais um episódio precoce da vida de João Neto. O menino, desde que chegou ao Timão, surpreende pela velocidade com que ganhou status de futuro craque.
Neto, como a maioria das crianças, iniciou a trajetória no futsal. Aos 7 anos, foi levado por Márcio Escórcio, professor de uma escolinha em Taubaté (SP), para jogar no Timão. O menino marcou 79 gols e atuou ao lado do filho de Edu Gaspar, gerente de futebol profissional do Corinthians.

Aos 8, quando mal havia acabado de ser alfabetizado, passou a ter contrato de imagem com o clube. Os gols não pararam de sair. Seja no salão, seja no futebol de campo, mesmo entre meninos mais velhos, já que era o único de 10 anos no time sub-11.

Seus feitos começaram a ser filmados e divulgados na internet. Até que chegaram aos ex-jogadores Rubens Júnior e Deco. Agora empresários, eles acionaram Jorge Mendes, que fez a proposta, prontamente aceita pelos pais, de levar João Neto e a família para Portugal.

O Corinthians tentou demover a família da ideia, acenando com a possibilidade de acionar o grupo de investimento Sonda numa negociação. Tarde demais.

João Neto, ainda criança, acertou contrato de patrocínio com a Nike. Em Taubaté, era celebridade e já dava autógrafo para as crianças mais novas da escolinha.

Procurado pela reportagem do Jogo Extra, Deivis Rota, pai de João Neto, não respondeu ao contato.

Fonte: Extra