Cristõvão esbanja humildade e se emociona com carinho dos jogadores após demissão

Danilo Vieira Andrade

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A entrevista de Cristóvão Borges ao GloboEsporte.com para falar de sua demissão no Corinthians foi emocionante. Esbanjando humildade, o treinador agradeceu a oportunidade, se emocionou ao falar das mensagens que recebeu dos jogadores e disse não guardar mágoa da Fiel.

Perguntado sobre a atual fase do time, Cristóvão destacou que o Corinthians faz um trabalho muito bom internamente, equacionando as dívidas e pagando todos os funcionários em dias.

“É um preço muito alto que o presidente está pagando e que o treinador também paga. Ninguém valoriza muito essa coisa do correto, do pagar em dia. Todo mundo quer título e, às vezes, para muitos não importa a que preço. Mas pelo o que clube tem de solidez, ainda vai se manter em uma posição boa. Daqui a pouco volta ao G-4. E, na Copa do Brasil, é possível brigar pela forma de disputa”, avaliou.

Emocionado ao comentar o carinho que recebeu dos atletas após ser demitido, Cristóvão revelou mensagens que recebeu de jogadores e comissão técnica. Ele não quis citar os números.

“Não vou falar quem, mas vários deles me ligaram. Me emociona falar. Fiquei no estádio um tempo (depois da demissão), eles já tinham ido embora. Um deles demorou porque estava com a família, soube que eu ia sair e veio falar comigo com os olhos cheios d’água. Para mim é muito emocionante. Tenho mensagens de jogadores e membros da comissão técnica (no celular)”, emocionou-se o ex-treinador alvinegro.

Cristóvão também se orgulhou do trabalho que fez no Corinthians. Segundo o treinador, o zagueiro Pedro Henrique, por exemplo, será o futuro do Corinthians.

“Eu me orgulho do que fiz. Jogou comigo o Pedro Henrique, que na minha opinião é o futuro do Corinthians, será jogador de seleção brasileira. Tínhamos preocupação na lateral direita, queríamos contratar, e o Léo Príncipe respondeu bem. No clássico, jogaram Léo e Arana. O Camacho ninguém quase sabia quem era e hoje é titular do time, jogando muito bem. Rodriguinho hoje é o destaque do time. São coisas importantes da minha função. Achar caminhos, soluções e fazer com que rendessem. Cristian estava sem jogar, voltou e me ajudou a organizar o local que a gente tinha mais dificuldade, que era o meio de campo. Fomos jogar com o Palmeiras, que é um time com capacidade de investimento altíssima nos últimos anos. Vai ter uma hora que, na briga, isso vai fazer a diferença. Fez a diferença”, orgulhou-se.

As vaias da torcida direcionadas ao técnico também foram abordadas na entrevista. Cristóvão afirmou que não existe mágoa.

“Muitas vezes me perguntaram sobre críticas e vaias. Tenho clareza e faço leitura das situações. Existia a coisa da expectativa. Na minha contratação, todos ficaram sobressaltados. Era a substituição do Tite. Meus amigos, colegas de trabalho, todos têm a visão de que seria muito difícil. Mas foi o que menos senti. Era um peso, claro. Eu sabia que tinha que ser 100%. E as coisas andaram bem no início. Só que na hora da oscilação, aconteceram coisas que ajudaram no desequilíbrio do time. Esse terreno é muito fértil para acertos e erros. Eu errei e acertei, o que é normal. Mas eu estava num lugar em que não podia errar. E quando errei, criou-se uma atmosfera adversa difícil de ser retomada. Tudo veio de uma vez só e de uma maneira incompreensível, com críticas além da conta, exageradas e desrespeitosas. Criou-se um monstro. Mas com relação à torcida, tenho zero mágoa. Aliás, em relação à nada. Mágoa de ninguém. Nunca me senti tão acolhido e protegido como no Corinthians. Essa atmosfera exterior foi pesada para todo mundo. A cobrança era muito grande”, avaliou.

O técnico também respondeu se a torcida do Corinthians não está mais acostumada em não disputar títulos. Ele concordou e falou da cobrança excessiva.

“É, não está. É o maior ganhador do Brasil na historia recente, o torcedor está acostumado (a títulos). Sabe quando deixei de apanhar dessa maneira absurda? Quando Bruno Henrique e Elias saíram. Mudou. As pancadas diminuíram, não no volume, mas na intensidade. Percebi todo mundo caindo na real: “Olha, é difícil mesmo trabalhar desse jeito”. Até então, havia a clareza, mas parecia que todo mundo estava em transe, a cobrança era como se aquele time fosse o mesmo de 2015. Por isso ficou pesado e difícil de carregar”, desabafou o ex-treinador alvinegro, demitido após a derrota por 2 a 0 diante do Palmeiras, no último sábado.

Foto: Marcelo Braga | Globo Esporte