Há momentos no futebol em que uma série de fatores, sejam eles político-econômicos ou esportivos, acarretam o insucesso de equipes. A ascensão de novos personagens é a primeira opção. O corinthiano se acostumou com a promoção de jovens do terrão ao longo da história do clube do Parque São Jorge. Numa ação conjunta entre a diretoria e o técnico Jair Pereira, o elenco alvinegro, que não havia tido um bom final de 1987, passou por uma reformulação que levou o clube ao 20º título paulista em 1988. Nomes como o do goleiro Ronaldo, do zagueiro Marcelo Dijan e principalmente do menino Viola foram do anonimato para a história alvinegra. Nesta quarta-feira (31), o Corinthians comemorará os 25 anos da conquista em cima do Guarani. Para isso, o Timão preparou um especial em parceria com a Placar e com a TV Globo.
Após o sofrível final de 1987, a reformulação do elenco se tornou necessária. Com a convocação de jogadores alvinegros à Seleção Brasileira e algumas lesões, os juniores do Timão entraram em cena. Desacreditado, o Corinthians iniciou a campanha pelo Paulistão no final de fevereiro de 1988. O primeiro jogo, contra o São Paulo, no estádio do Morumbi, provou que as mudanças não teriam resultados tão adversos assim. A estreia em partidas oficiais do goleiro Ronaldo, futuro ídolo da Fiel, foi a maior prova disso. Numa época em que o Corinthians contava com Carlos e Valdir Peres, o jovem goleiro aproveitou a primeira brecha para mostrar que estava pronto para assumir a camisa 1. Com Carlos convocado para a Seleção Brasileira e a saída de Valdir Peres, o menino Ronaldo defendeu um pênalti de Darío Pereyra e ajudou o Timão a vencer o forte São Paulo por 2 a 1.
Antes de adentrar os números e histórias que consagraram o Corinthians na disputa do campeonato, é preciso voltar a um dado constantemente divulgado de maneira equivocada. O Campeonato Paulista de 1988 foi organizado em dois grupos de 10 equipes que jogavam todas entre si. Ao final da primeira fase, os quatro primeiros de cada grupo se classificariam e formariam outras duas novas chaves com quatro times cada. Nos grupos com quatro equipes, seriam realizados seis jogos, em sistema de turno e returno. Os dois times com as maiores pontuações jogariam a grande decisão.
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Equipe contava com jogadores vindos da base, como Ronaldo e Viola; Clique na imagem para ver mais fotos |
O Timão deveria jogar 19 partidas – 20 participantes no campeonato – na primeira fase. Porém, muitas fichas técnicas insistem no número de 21 jogos. A confusão de registros históricos se deve ao rebaixamento de Ponte Preta e Bandeirante de Birigui à segunda divisão em 1987. Brigando na Justiça para permanecer na elite, as duas equipes do interior chegaram a entrar em campo mesmo com a recusa de todos os times da competição, exceto um, o Corinthians, por ordem do Presidente Vicente Matheus. O fato é que a campanha que culminou no título do Timão teve 14 vitórias, nove empates e quatro derrotas. Somente na fase inicial, foram 11 resultados positivos que deram ao alvinegro o primeiro lugar do grupo, seguido pelo Guarani.
Apesar de jovem, o renovado elenco era valente. No último jogo da primeira fase, contra o América, em São José do Rio Preto, caso o Timão perdesse, cairia num grupo considerado mais fácil. Se vencesse, enfrentaria São Paulo, Palmeiras e Santos. Com o empate em 1 a 1, o Corinthians teve seis difíceis clássicos antes de chegar à grande decisão com o Guarani. O primeiro contra o São Paulo foi do jeito que a Fiel gosta. Um empate em 2 a 2, no final do jogo, com dois gols de Éverton. Depois vieram mais outros três empates, dois contra o Palmeiras e outro com o São Paulo. As duas vitórias que levaram o Timão à final foram contra o Santos.
As grandes decisões contra o Guarani
Os dois jogos finais contra o Guarani foram um capítulo à parte na história do clube do Parque São Jorge. Os jogos somados levaram aproximadamente 128 mil torcedores aos estádios do Morumbi e Brinco de Ouro da Princesa. Mais uma vez, a Fiel fez a diferença e proporcionou uma verdadeira invasão a Campinas para o segundo jogo decisivo. A primeira partida, no dia 24 de julho, no estádio do Morumbi, levou pouco mais de 77 mil pessoas. O Guarani tinha uma equipe poderosa com jogadores como Ricardo Rocha, Paulo Isidoro, Boiadeiro, Evair, João Paulo e Neto. O então bugrino Neto – futuro ídolo da Fiel – marcou o primeiro gol da decisão aos 45 do primeiro tempo em uma bela bicicleta. Édson empatou para o Timão logo no início da segunda etapa. O resultado era amplamente favorável ao adversário, já que jogaria em casa e teria a vantagem do empate mesmo após uma possível prorrogação.
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No primeiro tempo da prorrogação, a estrela de Viola brilhou e o Timão chegou ao gol do título |
A segunda partida em Campinas quebrou todas as expectativas da imprensa na época. Após empatar fora de casa, o Guarani estava ainda mais perto de conquistar o título paulista diante de sua torcida. As ausências de Edmar, o artilheiro da competição, convocado para a Seleção, e Marcos Roberto, lesionado, foram o grande pretexto para a ascensão de um personagem: Viola, que havia entrado na primeira final, foi escalado como titular. O Timão suportou a pressão bugrina durante todo o tempo regulamentar e levou o jogo para a prorrogação. Com jogadores sentindo câimbras, logo aos cinco minutos a tradição e a raça alvinegra falaram mais alto no Brinco de Ouro. Após passe de Marcelo Dijan, Wilson Mano tentou o chute de fora da área. Sem direção, a bola acabou encontrando Viola, que apenas empurrou para o gol. Só restou a ele correr para os braços da Fiel, jogar a camisa para a torcida e iniciar seus passos como ídolo corinthiano.
O ano de 1988 entrou para a história do Timão. O clube do Parque São Jorge, que já havia ganhado o Campeonato Paulista no centenário da Independência do Brasil, em 1922, e o Campeonato Paulista no IV centenário de fundação da cidade de São Paulo, em 1954, conquistou também o 20º título paulista no centenário da libertação dos escravos em 1988.
Fonte: Site Oficial do Corinthians