Paolo Guerrero, atacante do Corinthians / Crédito:
Foto Renato Pizzutto/ Ilustração: Atômica Studio e Gustavo Bacan
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“O medo de voar brota de repente, quando uma pessoa toma consciência de que está a 10 000 metros de altura, cruzando os céus a 1 000 quilômetros por hora, e se pergunta: ‘Que diabos faço aqui?’ E começa a tremer…” A passagem do livro Dicionário do Amante da América Latina é um ensaio do Nobel de Literatura peruano, Mario Vargas Llosa, sobre sua própria fobia de aviões. Além de ser uma das personalidades mais conhecidas do Peru, o atacante Paolo Guerrero, 29, compartilha da paranoia do escritor compatriota.
Guerrero com o tio Caíco / Crédito: TOP 3 DO DIA 🗞
Arquivo Pessoal
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Para ir ao Japão no ano passado, onde marcaria o gol do segundo título mundial do Corinthians, Guerrero teve de superar uma tragédia familiar. Em 8 de dezembro de 1987, ele tinha apenas 3 anos quando o tio materno Caíco Gonzales Ganoza, goleiro do Alianza Lima, morreu após a queda do Fokker com a delegação do time a bordo. Nenhum jogador do Alianza sobreviveu ao acidente. “Por causa do desastre que matou meu tio, eu sempre tive medo de voar”, conta.
Depois de fazer terapia na Alemanha, Guerrero diz ter o temor controlado, a despeito dos apuros recentes. Na viagem para a Bolívia, pela Libertadores, uma forte turbulência sacolejou a aeronave por quase 2 minutos. A jornada rumo ao Japão, no entanto, foi ainda mais angustiante para o peruano. No trecho entre Dubai e Tóquio, uma das portas do avião se abriu durante o voo. “Todo mundo se assustou. Eu fiquei olhando para os meus companheiros. Se alguém gritasse, eu gritaria também [risos]”, conta, antes de lembrar outro obstáculo que precisou vencer, com infltrações e sacrifício, para jogar o Mundial de Clubes: a lesão no joelho direito.
Guerrero testa firme para o gol que despachou o Chelsea no Mundial / Crédito:
Alexandre Battibugli
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Paolo mandou para dentro o sonho dos milhares de corintianos que invadiram o Japão. “Eu me lembro de pouca coisa do momento em que fiz o gol. Só sei que eu olhei para a torcida comemorando e, logo em seguida, todo o time já veio me abraçar. P…, foi muito louco!” Virou herói em menos de seis meses de Corinthians. “Quando eu cheguei, meus companheiros me sacaneavam. Aprendi um monte de palavrão em português.”
O camisa 9 do Corinthians / Crédito: Renato Pizzutto
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Após a consagração no Mundial, Guerrero, ao vivo, em rede nacional, pôs as lições em prática ao definir a atuação do Corinthians. “O time jogou pra c…!” “Os repórteres vinham falar comigo e eu não sabia o que responder. A única coisa que pude dizer foi que o time jogou muito. Mais que isso, né? Jogou pra c… mesmo”, afirma. Ele nega, porém, que o termo chulo pertença a seu vocabulário cotidiano. “Quase não falo palavrão. Na frente dos meus pais, então, de jeito nenhum. Eles ficam bravos.”
Tatuagens, roupas extravagantes e os penteados exóticos — das trancinhas ao distinto corte que virou moda entre os corintianos depois do Mundial — enxertaram em Guerrero o rótulo de metrossexual no Peru. “Me viam dessa maneira pela roupa que eu vestia. Mas hoje todos se vestem igual a mim”, diz. “Um peruano que faz sucesso causa inveja nos outros.” Já a fama de bad boy surgiu na Alemanha. “Fiz muita merda na Europa. Agora estou mais sossegado.”
O LOUCO PATRIOTA
Guerrero com o pai / Crédito:
Arquivo Pessoal
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O goleador alvinegro é filho único do casal Petrolina Gonzales e José Guerrero, que se separaram ainda em seus primeiros anos de vida. Tem três irmãos por parte de pai e outros três da linhagem da mãe, que, seguindo a vocação do tio, também jogaram no Alianza Lima. Do pai, um ex-toureiro, Paolo herdou a paixão por animais, sobretudo os cavalos de corrida. Era José quem o levava ao hipódromo para fazer apostas depois dos treinos. Na época, a família não tinha dinheiro para criar cavalos. Já como astro na Alemanha, Guerrero arrematou Dilange e Cubage, os puros-sangues precursores de sua tropa, que conta com 14 exemplares. Recentemente, ele comprou dois potros e os batizou de Iguatemi (o shopping que frequenta em São Paulo) e Pacaembu. “O próximo vai se chamar Romarinho”, brinca.
Seu estábulo leva o nome de Diego Henrique, filho do relacionamento com uma brasileira na Alemanha. O menino de 8 anos mora no Rio de Janeiro, mas, apesar de vê-lo somente nas férias, se espelha no pai. Não só pelo corte de cabelo. “Ele já é corintiano roxo”, diz Guerrero. A conexão do peruano com o país do futebol vai além. Ainda criança, ele deu os primeiros chutes em uma bola na Avenida Brasil, em Chorrillos, bairro da periferia de Lima. Fã de Ronaldo Fenômeno, não imaginava que um dia vestiria a 9 que pertenceu ao ídolo no Corinthians.
O camisa 9 corintiano visita o quartel militar de Lima, onde Coyote, seu irmão mais velho, ex-Sporting Cristal, conciliou a carreira no futebol com o exército / Crédito:
Arquivo Pessoal
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O culto ao atacante no Peru rendeu novos adeptos ao Timão. Quase 50 000 fãs da página do Corinthians no Facebook são peruanos. Guerrero agora quer retribuir o carinho da pátria. “Meu maior sonho é levar o Peru à Copa do Mundo no Brasil”, diz, certo de que terá o apoio da Fiel caso vença a batalha nas Eliminatórias sul-americanas. “Vai ter muito corintiano torcendo pelo Peru.” O voo alto com a terra natal, que não disputa uma Copa desde 1982, é o que falta para Guerrero deixar sua bandeira fincada eternamente dentro dos corações peruanos, tal qual permanecerá para sempre na memória da nação corintiana.
Após dez anos na base do Alianza Lima, clube que não chegou a vê-lo em ação como profssional, o atacante é comprado pelo Bayern Munique aos 18 anos.
Guerrero / Crédito:
Reprodução
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2006
Guerrero / Crédito:
Reprodução
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2011
Guerrero / Crédito:
Reprodução
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O desempenho na Copa América atrai o Corinthians, que passa a monitorá-lo por meio de um sofware. Um ano depois, o clube desembolsa 7,5 milhões de reais para contratá-lo.
Guerrero / Crédito:
Alexandre Battibugli
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Anota os dois gols que o eternizam como herói do Mundial. “É uma lembrança que vou levar para o resto da vida. Quando eu tiver meus netos, vou contar essa história para eles.”
Fiorella Chirichigno
Fiorella Chirichigno / Crédito:
Divulgação
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Em 2007, um jantar com a modelo acabou indo parar na Justiça. Ele processou a apresentadora Magaly Medina por difamação, após ela ter dito na TV que o jogador fugiu da concentração peruana para se encontrar com Fiorella. Magaly foi condenada a cinco meses de prisão.
Natalie Vertiz / Crédito:
AFP
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Natalie Vertiz
Eva Habermann / Crédito:
Getty Images
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A atriz alemã, de 37 anos, teria sido o principal alvo das investidas do atacante no período em que jogou pelo Hamburgo.
Leslie Shaw / Crédito:
Divulgação
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Suposto afair do artilheiro no Peru, a cantora é a musa oficial da seleção peruana e acordou de madrugada para ver o Timão no Mundial. “Guerrero é o orgulho do Peru”, disse.
Fonte: Placar