Que brasileiro nunca viveu uma história de amor? No futebol, ainda mais nos dias de hoje, uma história como a de Paulinho não se vê em todos os vestiários. Aos 24 anos, ele está com Bárbara desde os 15. Um namoro que virou casamento e resistiu à pobreza da adolescência e às tentações da vida de boleiro.
O volante do Corinthians, que salvou a seleção da derrota no domingo ao marcar o gol de empate contra a Inglaterra, é considerado um dos melhores jogadores do país. Mas conheceu a esposa quando ninguém poderia afirmar se, um dia, ele conseguiria entrar num campo de futebol profissional. Na escola, Bárbara estudava na classe de um grande amigo, companheiro de peladas na favela. Paulinho costumava visitá-lo em sua sala de aula. Tornou-se um bom pretexto para caminhar pelos corredores.
– Eu a conheci por meio dele. Começamos a conversar por telefone, ficamos, e, no dia 30 de abril de 2004, passamos a namorar. É muito difícil manter um relacionamento durante todos esses anos, mas devo muito a ela. Quando ela me conheceu, eu ainda era um cara que estava tentando ser algo na vida.
Recém-chegado às categorias de base do Audax na época, Paulinho ganhava uma ajuda de custo de 200 reais. A namorada conseguia receber um pouco mais, fruto de seu trabalho num restaurante. Mas nada de gastarem tudo. Na grande maioria das idas ao shopping, o casal só passeava e passava vontade em frente às vitrines. Eram no máximo um cinema e um sorvete. O programa favorito dos adolescentes era sentar-se num banco de uma praça no bairro em que o jogador nasceu, o Parque Novo Mundo, comerem salgadinho com refrigerante e tomarem conta de Jeniffer, irmã de Bárbara e filha postiça de Paulinho.
– Com a gente não tinha tempo ruim – resume.
O namoro ia bem. A carreira, ou tentativa dela, nem tanto. Até que surgiu a oportunidade de tentar a sorte no praticamente anônimo futebol lituano. Morar num país totalmente desconhecido aos 18 anos, ganhar um salário melhor, conhecer o mundo… Paulinho poderia ter aproveitado solteiro a nova vida. Mas, depois de um breve período por lá, impôs uma condição para retornar ao país: levar Bárbara. Não antes de se casar com ela.
O matrimônio aos 18 anos abalou as famílias. Não eram contra, mas havia a preocupação natural com um casal adolescente que resolveu modificar sua vida para sempre. E os corintianos nem imaginam que Bárbara foi fundamental, por exemplo, na conquista da Taça Libertadores do ano passado.
É que Paulinho quase desistiu do futebol. As experiências fracassadas na Lituânia e Polônia, além do racismo do qual o jogador foi vítima nesses países, e da gravidez da esposa, o levaram de volta ao Brasil. De volta ao Audax, onde havia começado. Foi com um dos diretores da equipe brasileira que ele desabafou, e disse que queria parar. Não aguentaria mais racismo, banco de reservas, frio, etc, etc… Mas Bárbara interveio.
– Ela disse para eu pensar mais um pouco, foi até dura. Perguntou o que eu iria fazer se não jogasse bola, pois eu não sabia fazer mais nada. E falou que seria uma falta de respeito com minha mãe, minha família, as pessoas que apostaram e confiaram em mim. Aí a ficha foi caindo. Ela foi responsável pela minha permanência. Devo muito a ela.
Fonte: globo esporte