A história do Corinthians ficou marcada por conta do rebaixamento na Série A do Brasileiro, em 2007. Porém, não foi só o clube que deu a volta por cima após o triste episódio. O zagueiro Carlão, 30 anos, que atualmente está no Apoel, do Chipre, disse recentemente como sua carreira alavancou após aquele fatídico momento com o Corinthians.
O beque chegou ao Timão com 15 anos e apareceu para o futebol quando conquistou o bicampeonato da Copa São Paulo de futebol júnior em 2004 e 2005 com Júlio César, Ronny, Bruno Octávio, Elton, Wilson, Abuda e Bobô.
“Foi uma geração muito boa, uma das mais fortes. Tínhamos muita qualidade, dificilmente três ou quatro da base vingam [no profissional], mas daquele time quase todos ainda estão jogando. Era um grupo muito bom, de boa convivência”, contou Carlão para o portal ESPN.
Logo após o segundo título da Copinha, Carlão foi promovido para o time principal. Na época, o Timão era conhecido como “Os Galácticos”, afinal o time tinha Tevez, Carlos Alberto, Roger e Mascherano.
“Você tenta aprender o máximo possível com os caras renomados. Uma vez no treino dividi a bola com o Tevez numa jogada mais dura e ele ficou nervoso. No dia seguinte saiu nos jornais que tínhamos brigado, nada a ver”, recordou sorrindo.
O zagueiro começou a ter oportunidades depois do término da parceria com a MSI. Em um jogo marcante contra o São Paulo em 2007, Carlão foi protagonista de um lance incomum no futebol, e não foi o famoso gol de Betão que deu a vitória para o alvinegro. Eu uma disputa com Richarlyson, o zagueiro sofreu traumatismo craniano e desmaiou no gramado.
“Eu não lembrava de nada. Vi pela TV. Acordei uma meia hora depois bem confuso. Não lembrava que tinha jogado nem contra quem. Foi bem esquisito”.
Mesmo com a vitória heroica sobre o rival, o Corinthians foi rebaixado naquela temporada.
“Para todos foi muito complicado. A gente tinha muitos jovens que tinham uma responsabilidade enorme. Acabamos não conseguindo salvar o time e foi aquele baque. Todos esses jogadores tiveram que ter cabeça no lugar para seguirem em frente”, recordou.
Mesmo com o rebaixamento, Carlão permaneceu no Corinthians e passou a ter chances com o técnico Mano Menezes. “Acho que essa descida para segunda divisão foi benéfica, porque depois da saída da MSI, o clube ficou conturbado administrativamente. O Corinthians se reconstruiu e virou o que é hoje. A estrutura é fantástica e não deve para nenhum grande time da Europa”, disse.
No mesmo ano, Carlão agradou os europeus e se transferiu para o Sochaux (FRA) na metade da temporada. Na França, virou capitão e ídolo da torcida.
“A mudança foi radical na minha vida. Eu sempre vivi com a família em São Paulo. Depois, estava morando sozinho em um país diferente em que não dominava a língua e o futebol diferente. No começo foi um baque até me adaptar. Depois de seis meses comecei a falar o idioma e acabei virando capitão do time”, relembrou.
Em 2011, Carlão perdeu a vontade de jogar, e por quatro meses ficou em casa sem ir para os treinos.
“Estava bem fora de campo, mas não sabia o motivo de querer parar. Chegou um momento que precisava de um novo desafio para minha vida. Eu estava jogando como titular. Não foi depressão ou alguma contusão séria. Mesmo assim, o clube foi bem compreensivo comigo”, avaliou.
Com a chegada de um novo comandante, o zagueiro recebeu uma injeção de ânimo e voltou para os gramados.
“O Hervé Renard que me fez voltar a ter alegria de jogar, que é o que mais sei fazer. O treinador disse que precisava de mim e que contava comigo. Eu resolvi treinar uma semana como teste, mas foi especial. Ele é um segundo pai para mim e agradeço muito por ter voltado”.
Assim como o Timão, o zagueiro deu a volta por cima e após seis temporadas fechou contrato com o Apoel. Desde então, conquistou uma taça do Chipre, duas Liga Cipriota e disputou a fase de grupos da Uefa Champions League na temporada 2014/2015 junto com Ajax, Paris-Saint Germain e Barcelona.
“O Sochaux sempre me pedia para ficar, a torcida fez faixas e o clube me ofereceu contrato para ficar como funcionário depois de aposentar. Mas eu precisava de novos desafios e tinha o sonho de disputar uma Champions”, contou.
Uma das partidas mais marcantes foi contra o Barcelona (ESP), na ocasião o zagueiro anulou os astros Messi e Neymar.
“Essa partida foi espetacular na minha carreira. Quando teve o sorteio ficaram desesperados (risos). Ao mesmo tempo é um privilégio jogar contra os melhores do mundo. Naquela semana todos falavam que iríamos tomar de sete (risos)”, lembrou.
“A sensação ao entrar lá foi a melhor possível, jogando naquele estádio cheio. Tem dias que o jogo encaixa e para mim foi o que aconteceu”.
“Teve um cruzamento no primeiro pau que o Messi foi crente que ia fazer o gol, mas eu tirei a bola antes de cabeça. Ele ficou muito bravo, foi bem legal para mim (risos). A repercussão foi enorme porque eu tinha acabado de chegar. Essa partida me ajudou a ter propostas de outros lugares do mundo e até do Brasil”, revelou o zagueiro.
Mas a campanha de sua equipe não foi tão boa e o Apoel foi eliminado na primeira fase da competição com apenas um ponto.
Nesta temporada, Carlão que renovou contrato por mais três anos com o Apoel e tem a chance de voltar para o torneio. A equipe perdeu para o Rosenborg o jogo de ida por 2 a 1, na Dinamarca, e precisa de uma vitória por 1 a 0 ou de dois gols de diferença para ir até a última fase dos playoffs.
“A gente quer muito passar de fase. Temos chances de chegar de novo, mas eles têm um bom time e tradição. Mesmo assim, creio que nós temos chances de passar”, encerrou.