Choro, emoção e um clima nada parecido com o que o futebol proporciona ao torcedor: alegria. A entrevista de Vilson no CT Joaquim Grava, nesta quarta-feira, foi cercada de expectativa e comoção. Bastante abalado, o zagueiro alvinegro iniciou sua conversa com os jornalistas já chorando bastante.
Entre perguntas sobre sua amizade com os jogadores da Chapecoense, clube por qual Vilson atuou em 2015 e tem seus direitos econômicos ligados, o defensor não segurou a emoção e falou de sua relação com os atletas da equipe catarinense, vítimas fatais de um acidente aéreo na última terça-feira, na Colômbia, onde iriam enfrentar o Atlético Nacional pela final da Copa Sul-Americana.
“Cara, difícil até falar. Ontem e hoje o pensamento é só neles, nos familiares. Por ser uma cidade pequena a gente estava sempre unido, o presidente Sandro Pallaoro fazia confraternizações, queria grupo e família unidos. É uma dor muito grande, sonhos interrompidos de um grupo muito alegre e feliz. Era o que eu via ano passado, a alegria de vencer continuou forte esse ano e eles mostraram nos jogos, na Sul-americana. Formei irmãos ali, porque era uma luta pelos mesmos ideais. A gente fica muito triste pelo acontecido”, emocionou-se o zagueiro.
“Eu sempre fazia campeonato de videogame com Ananias, Neto, Gil, Bruno Rangel. Minha esposa também está muito triste, ligou para a esposa do Thiego, do Anderson Paixão. A gente fica sem saber o que fazer, sem palavras, muito triste com isso”, completou.
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Foto: Diego Ribeiro/Globo Esporte |
Vilson falou de como foi o momento em que recebeu a notícia. De acordo com o zagueiro, ele foi direto para o CT Joaquim Grava e no local encontrou um ambiente já triste e desanimador.
“Foi um baque para todos. Eu estava dormindo e umas 6h o celular começou a apitar, muitos amigos fora do futebol mandando mensagem, minha mãe também. Eu vim para o treino no automático, não sabia o que fazer, para quem ligar. Meu irmão estava em casa e veio comigo para o treino. Ai cheguei aqui e vi o Lucca muito triste, que é amigo do Cléber Santana. Tudo muito triste, ninguém tinha cabeça para treinar, sem condições. O Oswaldo nos reuniu, passou conforto e nos decidiu para ir embora”, revelou.
O zagueiro aproveitou para falar sobre as lições que a tragédia podem ensinar a todos os profissionais do futebol e também nos torcedores que se comoveram com o acidente fatal. Ele também projetou uma vaga na Libertadores em homenagem aos amigos de Chapecoense. Ao término da entrevista, alguns jornalistas na sala de imprensa também choravam.
“Nessas horas é que paramos para repensar nossa vida. A primeira coisa que fiz foi dar um abraço no meu filho. No começo do ano me apresentei na Chapecoense, poderia estar junto nessa tragédia. Depois que a gente é pai pensa duas vezes nas coisas que fazemos. Por isso abracei meu filho, minha esposa, minha mãe, e temos que dar valor às pessoas próximas. Estamos em oração pelo Neto, esperamos que ele saia dessa bem, com saúde, vivo. Temos um grupo no Whatsapp e nos falamos domingo, estávamos rindo, brincando, e hoje muitos deles não estão mais aqui. Temos que dar valor a quem está do nosso lado. Sei que vocês perderam companheiros de imprensa, então é para todos”, afirmou.
“Foi uma tragédia muito grande, sabemos da dor. Mas temos que pegar isso como força. Há mais de 30 milhões de torcedores querendo uma vaga na Libertadores. Hoje estou aqui pelos meus companheiros da Chapecoense, eles me ajudaram e me projetaram a vir para o Corinthians. Então tenho que jogar por eles, pegar essa alegria de exemplo e colocar em campo”, finalizou.