Presidente Mário Gobbi conta que acordou sentindo um “cheiro de Corinthians vencedor” | © Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians |
Na contagem regressiva para celebrar o aniversário de um ano da conquista inédita – e invicta – da Copa Libertadores da América, o Sport Club Corinthians Paulista conta a história do título por quem esteve envolvido diretamente com a equipe, mas não atuou dentro das quatro linhas. Neste especial, dividido em alguns capítulos, o Presidente Mário Gobbi Filho traz a público algumas de suas melhores lembranças e desafios como mandatário do clube durante a conquista do torneio sul-americano.
Longe da pressão externa e focados internamente
O troféu da Copa Libertadores não passava apenas de um sonho distante para o torcedor corinthiano, e sim o símbolo de uma verdadeira saga de frustrações e insucessos. Trabalhando para que a pressão não afetasse a torcida e os jogadores mais uma vez, o Presidente Mário Gobbi e o Departamento de Futebol praticamente blindaram o clube. ‘Nós começamos o ano pensando nela e nos dedicando a ela de uma maneira especial. Não podíamos alimentar isso externamente ao torcedor, e sim tirar essa ânsia de querer vencer. Porém, internamente, trabalhávamos alucinadamente pela Libertadores. O grupo fechou com a comissão técnica e a Diretoria. Teríamos de trabalhar com muita humildade e dedicação, mas acima de tudo, sabedoria e equilíbrio. Somente não podíamos esquecer de que o Corinthians é maior do que a Libertadores. A libertadores passa, o Corinthians fica e a vida segue’, afirmou.
Dificuldades no Equador
Classificado, o Corinthians fez a primeira partida das oitavas contra o Emelec, no Equador, e encontrou dificuldades externas, como conta o Presidente Mário Gobbi: ‘Na partida com o Emelec, passamos pela guerra externa. Quando chegamos lá não pudemos treinar e, no dia do jogo, o vestiário não estava em condições boas de uso. Nós superamos, fomos ao jogo e com o decorrer da partida alguns membros da comissão se exaltaram um pouco com a condução do árbitro. Pedi calma a todos, mas no final, com o depoimento de um inconformado Danilo, que é um cara sereno, decidi que algo devia ser feito. Decidi conceder uma coletiva de imprensa no CT Dr. Joaquim Grava comentando o que ocorreu no Equador e dali pra frente o Corinthians passou a ser muito respeitado’.
Surge um gigante
No Pacaembu, Corinthians e Vasco decidiam uma vaga na semifinal e empatavam em 0 a 0, até que o mundo parou para ver o duelo entre Cássio e Diego Souza. Para o Presidente Mário Gobbi, aquele era mais um indício do que aconteceria naquela Libertadores: ‘Estava difícil sair o gol e o Alessandro, uma referência do nosso grupo, errou o passe. Eu fiquei olhando fixamente com a esperança de que o Cássio pegasse. Quando ele pegou, foi um alívio e mais uma confirmação de que nós estávamos no caminho certo para o título. O Cássio protagonizou um milagre com a ponta dos dedos e nos salvou’.
Igreja Nossa Senhora do Pilar
Religioso, o mandatário alvinegro contou um episódio ocorrido na capital argentina, momentos antes da decisão: ‘Para que possamos dar o nosso melhor, eu e o Tite temos o hábito de meditar e orar antes das partidas. Por indicação de Tite, fomos à linda Igreja Nossa Senhora do Pilar, no bairro da Recoleta, em Buenos Aires, localizada ao lado do cemitério onde jaz Evita Perón. Estávamos eu, o Tite, o Ronaldo Ximenes, Secretário Geral do clube, e o Elie Werdo, Vice-Presidente. Oramos e quando estávamos saindo, o Tite pediu que entrássemos num lugar que ele dizia ser muito especial. Passamos por um túnel longo, escuro e iluminado por velas. No final, uma imagem do santíssimo estava exposta e brilhava. Falo isso arrepiado, já que senti Deus perto de nós e uma paz muito grande. Foi um momento mágico em que sentimos que as coisas estavam caminhando para um final feliz. Fora da igreja, o Tite ainda me presenteou com um terço que guardo até hoje’.
O vestiário da Bombonera
‘Entrei no vestiário e vi todos se aquecendo, alongando, quando recebi um torpedo do Kléber Leite, uma das pessoas que tive o prazer de conhecer na vida. Quando eu era um menino de 12 anos, em Jaú-SP, ouvia a Rádio Globo do Rio de Janeiro e o admirava pelas reportagens que fazia. Na linda mensagem encaminhada, ele perguntava se eu poderia chegar perto do Emerson Sheik e dizer que ele era um cara especial e predestinado. Fui procurar o Sheik no vestiário e ele estava deitado na maca, colocando uma atadura. Li a mensagem do Kléber para o Sheik. Foi um momento sensível que passou força e coisas boas a ele’, conta o Presidente Mário Gobbi. Horas depois, Emerson Sheik girava em cima da marcação e lançava com maestria para Romarinho marcar o gol de empate.
Visita do Padre Marcelo Rossi
‘Antes da segunda partida decisiva, recebemos a visita do Padre Marcelo Rossi, que inaugurou a Capela Ecumênica do CT Dr. Joaquim Grava. Todos os funcionários estavam presentes. Ele falou umas palavras e deu uma bênção individualmente a cada jogador. Ele parou por cinco minutos na frente do Emerson Sheik. Lembro bem do espírito positivo que contagiou todos’, relembrou o Presidente, que também não escondeu o sorriso ao repetir uma frase dita pelo Padre Marcelo Rossi: ‘Dificilmente vocês não serão campeões’.
Um dia mágico e o ‘cheiro’
‘O dia 04 de julho foi mágico. Desde o momento em que acordei senti um cheiro, um perfume diferente no ar, que foi crescendo com o desenrolar do dia. Compareci à entrevista coletiva do Santander, patrocinador do campeonato, e ali tive a sensação de um Corinthians campeão. Voltei ao CT, onde li a bíblia, descansei um pouco e recebi algumas ligações de pessoas importantes. Olhava para o céu e via uma imensidão de nuvens em formato de bolhas que explodiam e se misturavam com aquele cheiro diferente. Comentei com a delegação o que sentia e eles concordaram comigo. No Pacaembu, olhava para as arquibancadas e sentia que aquele cheiro invadia e tomava conta do estádio. Este cheiro era o cheiro do Corinthians campeão. Havia acordado sentindo o cheiro de um Corinthians vencedor’, conta o Presidente.
Já no final da partida, aos 35 do segundo tempo, com o placar em 1 a 0, os seguranças levaram o Presidente Mário Gobbi até o vestiário, já que deveria estar no gramado para receber as honrarias de campeão ou vice-campeão, caso o Corinthians sofresse a virada. ‘Cheguei à Sala de Imprensa e todos já me perguntavam qual era a sensação de ser campeão da Libertadores e eu disse que só comemoraria depois de encerrado, até que saiu o segundo gol. Com o jogo rolando, dei a volta e me dirigi ao nosso banco de reservas já comemorando com enorme felicidade. Quando o Tite me viu, tomei uma bronca enorme. Ele só iria comemorar quando acabasse mesmo, foi uma cena cômica. A partida acabou, o cheiro invadiu de vez o Pacaembu e eu tive a completa certeza de que o Corinthians era mesmo maior do que a Libertadores. Todo um trabalho construído desde 2007 era ali coroado. Tem certas coisas que não se explicam. Tudo fez sentido pra mim com um verso da música Linda juventude, do 14 Bis, que diz: ‘Nossa linda juventude, página de um livro bom’. Só tenho a agradecer’, encerrou o Presidente Mário Gobbi.
Fonte: Site Oficial do Corinthians