Cássio, agora, é um retrato na parede

Roberto Zanin

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Era uma vez um goleiro corinthiano do Corinthians.

Que jogou até com o dedo quebrado.

Que sofreu um gol que não poderia.

Que, talvez, por amar tanto o clube, sucumbiu, às vésperas das oitavas da Libertadores 2012.

Tite queria que Danilo Fernandes assumisse o cargo e o encargo.

Mas o professor Mauri Lima (obrigado, Mauri!) indicou e bancou Cássio.

A arbitragem caseira no Equador, (um árbitro que parecia o Mr. Bean, lembro), só não deu a vitória para o Emelec porque o homem de camisa amarela, 24, fechou o gol.

Na volta, ganhamos. Seguimos.

Havia o Vasco, havia Alessandro, havia Diego Souza. Houve 8 segundos de coração na boca, asfixia e angústia.

Mas no nono segundo Cássio (ou fomos todos nós?) espalmou.

O resto da história da conquista invicta da América todo mundo conhece.

A conquista do Japão (e no Japão) foi do tamanho do mundo.

E do tamanho de Cássio.

Depois vieram muitos outros títulos, que aumentaram ainda mais o tamanho do Monstro de Yokohama.

Mas o tempo, implacável, cruel, impiedoso, também exerce seu feitiço sobre os ídolos.

Tempo, ah, o tempo…

Que corrói relacionamentos, que atrasa reflexos, que diminui a paciência.

Tempo, que matou o romantismo e deu luz ao “profissionalismo”.

Tempo, ah, o tempo, também me afetou.

Os fatos, as folhas arrancadas do calendário, as decepções e as máculas, empanaram em mim as ilusões de eternidade em plena Terra.

Descobri há algum tempo que não existem mais Zés Marias, de camisa ensanguentada, fiéis do início (no campo) ao final (no banco).

Ah, o tempo….

O tempo fez de Cássio um líder.

Líder que falhou quando reclamou de novatos e isentou medalhões.

Líder que se abatia quando falhava, com a derrota estampada no rosto e nos gestos.

Líder que colocava gasolina na fogueira ao dar declarações com queixumes em desabafo.

Tempo, ah, o tempo…

O que são seis meses no tempo? Tempo para dignamente encerrar um contrato e sair pela porta da frente.

Mas talvez seis meses sejam pouco para um amor ou muito para um sofrimento…

O tempo, ah, o tempo, me ensinou que não existe ninguém acima do bem e do mal. Luzes e sombras, como nos mais belos retratos. Ah, sim!

Só o retrato não sofre a ação do tempo, pois este é detido por aquele.

Retratos eternizam momentos. Como aquela defesa no Pacaembu. Como os milagres no Japão.

Cássio, para mim, é um retrato na parede.

Fora dele, o ídolo sofreu com o tempo.

E mudou. E se mudou.

3 comentários em “Cássio, agora, é um retrato na parede”

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