É de conhecimento público que para se tornar um jogador de base de qualquer equipe considerada grande no Brasil, o processo é difícil e longo. Pelo menos era o que deveria ser feito e não está sendo realizado na base do Corinthians, segundo denuncias publicadas pelo portal Uol Esporte nesta terça-feira.
A publicação revela relatórios obtidos com exclusividade que mostram três assinaturas de três jogadores diferentes da base que assinaram com o clube mesmo após serem reprovados nos testes em campo. Felipe França Lopes Rodrigues, 18 anos, Tony Mateus Silveira, 18 anos, e João Lucas de Brito Rodrigues Sales, 17 anos, são os jovens envolvidos no caso.
Enquanto Felipe e João foram indicados por Mané da Carne, padrinho do ex-presidente Andrés Sanchez no Corinthians, o garoto Tony, por sua vez, foi levado por José Onofre Almeida, primeiro diretor do departamento amador na gestão Roberto de Andrade e já demitido do clube – ele, inclusive, assinou os três contratos.
Nos relatórios, fica evidente que os três foram reprovados no teste técnico. Em 13 quesitos, Tony e João foram reprovados em dez e tiveram nota regular em apenas três. Mesmo assim, o primeiro assinou por 11 meses, enquanto o segundo 34 meses. O jovem Felipe França foi o único a atuar com a camisa alvinegra, por 29 minutos, na vitória do time sub-17 por 6 a 0 sobre o São José. Depois disso, jamais voltou a jogar. Ele também foi reprovado em dez dos 13 itens do teste técnico.
Ficha com reprovação de Tony e Matheus | Reprodução |
Procurado pela reportagem, Onofre, que assinou o contrato dos três atletas, tentou explicar. “Os jogadores eram aprovados pelo treinador e supervisor, só vinha o contrato para eu assinar e mais nada. Como já passou na mão de todo esse pessoal, você aprova”, disse.
Mané da Carne, por sua vez, disse que tentou ajudar a carreira do jovem Felipe. “O pai do Felipe me pediu no Rio de Janeiro para ele fazer um teste no Corinthians. O moleque está tentando a vida dele. Me ligam pedindo, ‘tenho um menino de 15 anos para testes’, e pelo meu coração, por bondade, uma porção de coisas, eu apresento. Apresentei moleques que nem sei quem são. Não vejo o Felipe há um ano e o Tony há oito meses”, argumentou.
Em contato com o Corinthians, a reportagem apurou, dias antes da demissão de Fausto Bittar Filho das categorias de base, algumas informações importantes.
“São jogadores que recebem apenas uma ajuda de custo, na base de um salário mínimo. Seus vencimentos não ultrapassam mil reais”, argumentou Fausto. “São contratos de formação, e não de profissional. O clube faz para se garantir diante do assédio de outros clubes”, concluiu.
Fausto também falou da aprovação dos atletas mesmo após serem reprovados nos testes. “A reprovação era feita só pelo técnico da categoria. Hoje, a reprovação e a aprovação precisam obrigatoriamente de seis assinaturas. Participam o técnico da categoria, o supervisor da categoria, o coordenador de captação, o gerente administrativo, o coordenador técnico e, por último, o diretor do departamento. A ideia é diminuir e minimizar o máximo a possibilidade de erro”, finalizou.