A contratação de Cristóvão Borges como comandante técnico do Timão traz à tona uma importante discussão fora das quatro linhas: A desigualdade racial no futebol. Desde 1992, 28 técnicos passaram pelo Corinthians, e nestes 24 anos, nenhum era negro. Até o sábado (18), o último treinador negro a comandar a equipe do Parque São Jorge havia sido Basílio, com breve passagem pela equipe ainda em 1992.
Em contato com o portal Meu Timão, Marcelo Carvalho, diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol falou sobre o assunto. Para ele, a contratação de Cristóvão por um grande clube do país influencia diretamente a visão social da juventude brasileira.
– Um treinador negro num grande clube brasileiro é mostrar para os jovens que eles podem atingir um patamar além de jogador. Hoje temos o Roger no Grêmio que mostra isso, que pode ser um bom treinador independente da cor dele. Quem sabe o Cristóvão fazer um bom trabalho no Corinthians também sirva de referência – disse.
Marcelo Carvalho destacou ainda, que apesar de ser conhecido como o time da democracia, o Timão não consegue refletir a alcunha na participação de negros em cargos de chefia.
– Infelizmente, mesmo sendo o clube da democracia, o Corinthians ainda não conseguiu refletir isso na participação de negros. A questão de um técnico negro, assim como dirigente ou presidente, é o empoderamento. Isso é um exemplo que as crianças vão ver e vão saber que na realidade nada impede de elas chegarem aos lugares mais altos que elas sonham – completou.
A situação não é diferente nas outras equipes do futebol brasileiro. O Brasileirão 2016 da Série A possui agora apenas dois treinadores negros entre as 20 equipes do torneio: Roger Machado, comandante técnico do Grêmio; e Cristóvão Borges, que estreia pelo Corinthians na noite desta quarta-feira (22). O número é o mesmo do início da competição, porém, ao lado de Roger estava Givanildo Oliveira, já demitido pelo América-MG.
– No Brasil temos o racismo institucional. Temos negros trabalhando na parte de baixo da pirâmide. Mas poucos chegam à parte de cima, aos cargos de chefia. O futebol reflete isso, temos poucos negros como treinadores, dirigentes, conselheiros e presidentes. É bem esse o reflexo da situação social no futebol. É algo que precisa ser debatido. Não é falta de capacidade das pessoas. Será que não existe mesmo uma porta fechada? – finalizou Carvalho.