Após a semana conturbada que viveu no Corinthians, o gigante Cássio recebeu afagos por parte da imprensa. Um deles, da jornalista Milly Lacombe, do UOL, viralizou e emocionou os torcedores.
Na carta aberta, a jornalista relata momentos do duelo histórico entre Cássio e Diego Souza nas quartas de final da Libertadores de 2012. O dia 23 de maio daquela temporada jamais foi esquecido pela Fiel.
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Acho que eu entendi pela primeira vez que você tinha cinco metros de altura e dez de envergadura naquela noite de 23 de maio de 2012. É curioso porque até ali me parecia apenas que você era um homem grande, mas não exatamente gigante. Tudo mudou quando eu vi a imagem de Diego Souza carregando a bola na sua direção. Eu estava assistindo ao jogo com muitos amigos, o barulho era grande, mas quando a bola sobrou nos pés de Diego e percebemos que entre você havia o mais absoluto vazio, imperou na sala um tipo de silêncio que deve ser daqueles que antecede a nossa morte. Num universo paralelo, Diego ainda carrega, solitário, a mesma bola em sua direção. Nesse universo, existe apenas o vazio e o silêncio. Existe apenas um eixo de temporalidade que comporta, ao mesmo tempo, medo e esperança.
Medo e esperança não se desarticulam nunca, ensinam os filósofos. Onde há medo de que as coisas deem errado, existe também a esperança de que elas não deem. Onde existe esperança, existe também o medo de que, talvez, tudo desmorone.
Diego Souza corre em sua direção. Você dá uns passos à frente e, de repente, para. Por uma fração de segundos parece que você não sabe para onde ir. Mas não é nada disso – entenderemos depois. Você para porque começa a aumentar de altura. Você segue esticando conforme a bola é tocada pelo vascaíno em sua direção. Revendo o lance milhares de vezes é possível, em algum momento, perceber que Diego, finalmente, notou o fenômeno do seu aumento de estatura. Ele, de olho na bola, intuiu que você tem agora quase cinco metros. Você abre os braços e é certo que, nesse instante, o atacante enxerga a envergadura de dez metros. Antes mesmo de chutar a bola, Diego compreende que não fará o gol. Simplesmente porque não havia mais traves; havia apenas você de braços abertos.
Ele chuta, você salta. Não fica claro o que aconteceu. Estamos vivos e vivas? Parece que sim. E a bola? A rede não balançou. A bola saiu pela linha de fundo? Como? Não entendemos. O silêncio continua até que vemos o juiz apontar alguma coisa. Escanteio? Escanteio! Você, seu encantador de universos, tinha tocado na bola.
Podem tentar me dizer o contrário, mas foi ali que ganhamos a América. Foi naquele momento que o gol de Paulinho, que viria minutos depois, começou a acontecer. Foi ali que nos classificamos. Foi ali que matamos o Boca. Foi ali, inclusive, que deixamos o Chelsea no chão.
E foi ali que eu entendi que talvez não tenhamos que operar na chave do medo/esperança, mas sim na da confiança. Foi com essa emoção que você fez a mágica de, por alguns segundos, alcançar os cinco metros de altura. Esse passado não morrerá jamais. Você passará, nós passaremos mas esse instante que inaugurou uma fenda temporal na noite de 23 de maio de 2012, jamais passará.
Você é gigante e, no dia que decidir parar de jogar, espero que uma estátua com seu real tamanho seja construída em Itaquera.
COLUNA VOZ DA FIEL
"Cássio precisa mostrar a liderança que sempre impôs nos vestiários desde quando desembarcou no Parque São Jorge, em 2012. Nem que para mostrar liderança seja abrir mão da titularidade para o promissor Ivan. Não é demérito"https://t.co/2YeXJcMgzV
— É o Time do Povo, é o Coringão (@eotimedopovo01) April 8, 2022